04/01/2016

Maioria dos institutos federais não faz pesquisa tecnológica, diz estudo

A maioria dos campi dos institutos federais não faz pesquisa tecnológica e os poucos que realizam não levam em conta a realidade das regiões em que estão inseridos. Isso é o que mostra uma pesquisa inédita divulgada pela Fundaj (Fundação Joaquim Nabuco), ligada ao MEC (Ministério da Educação).

De acordo com os responsáveis pela pesquisa, os institutos não promovem a inovação nem contribuem para a redução das disparidades regionais e sociais. "Quando faz pesquisa, ela não está relacionada ao contexto da região e, às vezes não, é pesquisa tecnológica. Mas aí por que isso? Tem vários motivos", diz Adriano Baptista Dias, coordenador da pesquisa.

Para Dias, o levantamento mostra o descumprimento dos objetivos propostos pela lei 11.892, que criou em 2008 os institutos federais. "De fato, o estudo mostra, pelo que os entrevistados colocaram, que a pesquisa [realizada pelos institutos federais] está fora do que interessa à população, fora daquilo que diz a lei que criou os institutos federais, que eles deveriam desenvolver tecnologicamente a área dele".

Entre as principais causas para essa baixa produção tecnológica, diz o estudo, estão a concentração da dedicação do tempo dos professores em atividades voltadas ao ensino --em detrimento da pesquisa e da extensão -- e a restrição das pesquisas à existência de pós-graduação no campus.

"Por que não faz pesquisa? Porque a carga docente é muito grande, com a complicação de que o instituto é a única instituição que tem ensino básico, superior e profissional, cada um com uma linguagem distinta, e termina não sobrando nada [de tempo] para a pesquisa", diz o coordenador da pesquisa.

Além disso, ele diz que o modelo de avaliação dos institutos também dificulta o desenvolvimento de pesquisas tecnológicas e contribui para a reprodução do modelo de produção da universidade.

"Os institutos tendem a imitar as universidades, que estão ali perto e são uma referência natural. Depois, os novos que vão entrando, vêm da universidade e tentam reproduzir aquilo. Mas tem um outro motivo mais sério: a lei que criou os institutos coloca a avaliação deles no mesmo sistema que avalia as universidades. Então você cria um instituto para ter desenvolvimento tecnológico e depois você amarra ele a uma instituição que não faz desenvolvimento tecnológico. Isso tende a desvirtuar os objetivos e finalidades para que o instituto foi criado", afirma o coordenador.

Para chegar aos resultados, os pesquisadores levaram em conta relatórios de gestão, informações disponíveis nos sites dos institutos e realizaram entrevistas com 120 pessoas das esferas acadêmica, governamental e do setor produtivo. A análise qualitativa foi realizada em 12 dos 38 institutos federais criados desde 2008. Um dos critérios utilizados foi a existência de programa de pós-graduação, já que eles normalmente estão relacionados à pesquisa.

Propostas de intervenção
Além de apontar as deficiências nos sistemas dos institutos federais, o estudo também faz recomendações para que de fato eles consigam contribuir com a inovação. Para os pesquisadores, é importante que o sistema de avaliação dos IFs, que hoje é o mesmo das universidades, priorize o conhecimento aplicável e que os incentivos sejam voltados às pesquisas que apresentem altas chances de absorção pelos agentes e pela produção local.

O estudo também recomenda que seja estabelecida uma carga horária máxima em sala de aula e que haja uma regulamentação das atividades de pesquisa e extensão dentro da carga horária docente. Ainda de acordo com os pesquisadores, é importante que haja um estímulo à criatividade, dentro de estruturas curriculares flexíveis e interdisciplinares.

Procurado pela reportagem, o MEC ainda não se manifestou sobre o estudo. O texto será atualizado assim que o ministério enviar o seu posicionamento.

Por Marcelle Souza
Publicado em UOL