Pesquisas arqueológicas, botânicas e do solo comprovam que a formação da floresta amazônica não é resultado apenas da evolução natural, mas também é fruto da ação do homem na região há mais de 11 mil anos. Esse é o tema da exposição aberta ao público nesta quinta-feira (23) pelo Museu Paraense Emílio Goeldi. Com o nome "Origens: Amazônia Cultivada", a mostra traz evidências da ação do homem e peças de mais de 5 mil anos, encontradas durante as pesquisas feitas na Serra dos Carajás (PA) desde a década de 1980.
A exposição é dividida em dois períodos históricos. O primeiro, chamado de Cultura Tropical, é formado pelos povos nômades que chegaram à região há 11 mil anos e usavam as cavernas e grutas como abrigo. Podem ser vistas peças como pontas de flecha feitas para caçar, moedores de alimentos e lâminas de machado para manejar o ambiente. A segunda sala retrata a Cultura Neotropical, datada de 5 mil anos. Essa população se estabeleceu na planície e formou aldeias junto aos rios. São expostos artigos como itens de cerâmica fabricados para alimentação ou rituais funerários.
O arqueólogo Marcos Pereira Magalhães, que coordena estudos na região dos Carajás há 20 anos, afirma que a população pré-colonial passou a privilegiar e proteger as espécies naturais que lhes eram úteis para a sobrevivência, o que teve influência na formação do ecossistema amazônico.
"A formação de parte das florestas e da biodiversidade amazônicas é produto da seleção cultural de espécies. Além de terem domesticado algumas plantas para consumo, como a mandioca, os indígenas teriam agido de modo a cultivar florestas inteiras. A consequência disto foi que, muito provavelmente, mais de 60% das florestas conhecidas como naturais seriam, na verdade, culturais, o que acaba com aquela ideia antiga de floresta virgem", afirma.
Magalhães é organizador do livro "Amazônia Antropogênica", lançado junto com a exposição com textos de 17 pesquisadores sobre a formação da floresta amazônica.
A exposição "Origens: Amazônia Cultivada" está no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi.
Fonte: Museu Goeldi