O hábito de leitura deve ser construído na infância. Porém, a maioria dos alunos em idade escolar no País não considera a biblioteca como um espaço prazeroso. De acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada na segunda-feira, 11 de julho, pelo Instituto Pró-Livro e pelo Ibope, 75% dos entrevistados associam as bibliotecas a um lugar para pesquisar e estudar – por obrigação –, contra apenas 34%, que mencionam a leitura nesses locais como um prazer. Entre adultos, a proporção é parecida (71% contra os 30% que leem por lazer). Ainda segundo o levantamento, somente um terço dos brasileiros citou a influência de alguém, seja um familiar ou professor, na formação do gosto pela leitura. Mesmo os professores, que em tese deveriam dar o exemplo, têm pouco hábito de leitura – metade respondeu que não estava lendo nenhum livro durante a realização da pesquisa.
Diante desse contexto, o projeto Leitura, Literatura e Formação na Escola, desenvolvido por iniciativa de um grupo de pesquisadores da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), vem promovendo práticas de leitura entre alunos e professores da Escola Estadual Municipalizada Mazomba Doutor Jorge Abrahão, localizada no município de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio. “O objetivo do projeto é popularizar as práticas de leitura nessa escola, que tem alunos do ensino fundamental II – que vai do sexto ao nono ano –, e ampliar o repertório cultural e literário que os estudantes já trazem, valorizando a literatura oral que eles já dominam e aumentando o contato deles com obras clássicas”, diz a Jovem Cientista do Nosso Estado Márcia Cabral, coordenadora do projeto e do grupo de pesquisa Infância, Juventude, Leitura, Escrita e Educação, na Faculdade de Educação da Uerj. O projeto foi contemplado no edital Apoio à Melhoria do Ensino em Escolas da Rede Pública Sediadas no Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ.
Para atingir essa meta, a sala de leitura da escola foi reestruturada. “Compramos mobiliário, aparelho de projeção, tela, porta-revistas e um acervo mais digno de livros, que inclui obras de narrativas curtas e longas, além de DVDs. O acervo ficou com cerca de 500 títulos”, diz Márcia Cabral. Uma estratégia adotada para despertar o interesse dos jovens pela leitura na escola foi trabalhar com obras que estão atualmente na mídia e são atrativas para o público juvenil. “Não menosprezamos o gosto deles pelas séries Crepúsculo e Harry Potter, que também integram o acervo”, explica Márcia, que contou com o apoio de toda a equipe da escola, dirigida por Marize Nádia Marçal e Hellen Almeida.
A escolha da escola Dr. Jorge Abrahão ocorreu por influência da doutoranda Aline Santos Costa, então bolsista do programa Treinamento e Capacitação Técnica (TCT) da FAPERJ, orientanda de Márcia e professora de História da escola. “Aline contou que a biblioteca era muito deficiente e resolvemos concorrer ao edital da FAPERJ”, conta Márcia. No dia 16 de maio, foi inaugurada a nova sala de leitura. O espaço, batizado como Vinicius de Moraes, passou a sediar também reuniões semanais do Clube de Leitura dos alunos.
O Clube da Leitura é uma iniciativa para motivar a frequência regular dos estudantes à biblioteca. “Ele teve início em 2015, mas após a inauguração da nova sala, a adesão das crianças a esse projeto aumentou. Elas têm autorização dos pais para ficar na escola à tarde, depois da aula, lendo. As atividades do clube envolvem rodas de leitura e contação de histórias, semanalmente. A sala de leitura também sedia a realização de outras atividades educativas, como as oficinas de poesia, que não são diretamente vinculadas ao Clube de Leitura, mas só se tornaram possíveis com a reestruturação da sala”, detalha Aline. Ela participou da organização do Clube de Leitura junto com professora Aimée Marcilei Azevedo, que trabalha como mediadora da sala de leitura. “É importante ter a figura de um facilitador de leitura para os estudantes, fornecendo suporte e orientação aos jovens que buscam livros”, completa.
O bairro da Mazomba, em Itaguaí, onde está localizada a escola, é uma região semirrural. A escola, com cerca de 120 alunos, ainda não tem acesso à internet. “É uma região com pouco comércio e dificuldades de transporte. A estrada da escola é asfaltada, mas para chegar ao colégio só há uma linha de ônibus, que passa de hora em hora, ou as vans de uma cooperativa local. As crianças dependem de um ônibus escolar da prefeitura”, diz Aline. Diante dessas dificuldades, promover o gosto pela leitura pode trazer reflexos, no futuro, para o próprio desenvolvimento local. “Esse projeto de reestruturação da sala de leitura foi importante não só para a formação leitora dos alunos, mas também dos professores, porque com novos títulos, os mestres podem contar com mais recursos para trabalhar com os alunos e para a própria formação deles”, pondera Aline.
Para a coordenadora do projeto, não existe uma fórmula pronta para desenvolver o gosto pela leitura nas novas gerações, mas a ideia é criar um ambiente favorável, em toda a escola, ao gosto pelos livros. “Muitas vezes, a escola não cria leitores porque se concentra mais nas cobranças para provas. Queremos popularizar a leitura em todo o ambiente escolar. No pátio da escola, tem uma estante de livros para os alunos levarem para casa, em vez de deixá-los fechados na biblioteca. Na entrada da escola, há informações para divulgar o horário de funcionamento do Clube de Leitura. O prazer de ler deve ser compartilhado”, conclui Márcia.
Fonte: Débora Motta – Ascom FAPERJ