13/07/2016

Planta presente no Brasil é capaz de colonizar áreas desmatadas


Elton Alisson  |  Agência FAPESP – As espécies de árvores nativas pioneiras – que têm capacidade de colonizar ambientes degradados em razão de sua alta capacidade reprodutiva e crescimento rápido, entre outras características – têm sido priorizadas em programas de restauração de florestas tropicais desmatadas.
Isso porque essas árvores facilitam a transição da terra desmatada para a floresta em recomposição ao estabilizar o terreno e melhorar a conectividade entre os fragmentos florestais restantes, além de aumentar a permeabilidade do solo e contribuir para iniciar a montagem de redes de polinizadores e dispersores de sementes de plantas, apontam especialistas na área.
Apesar da importância ecológica dessas espécies pioneiras pouco se sabe, por exemplo, sobre como elas mantêm a diversidade genética nas populações naturais e o fluxo genético entre fragmentos florestais distantes uns dos outros, por exemplo, pondera Rodolfo Jaffé, pesquisador do Instituto Tecnológico Vale (ITV).
“Ter conhecimento da genética dessas espécies é fundamental para conseguir uma restauração mais eficiente ou a recuperação de funções ecossistêmicas-chave em curto ou médio prazo”, disse Jaffé à Agência FAPESP.
“É claro que esses ecossistemas recuperados por meio das espécies de árvores nativas pioneiras nunca serão iguais aos originais. Mas a ideia é chegar o mais próximo possível”, afirmou Jaffé, que realizou pós-doutorado no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) com Bolsa da FAPESP.
O pesquisador, em parceria com colegas da University of Texas em Austin, nos Estados Unidos, onde fez um estágio de pesquisa também com Bolsa da FAPESP, estudou os padrões de diversidade e diferenciação genética da espécie de árvore nativa pioneiraMiconia affinis (conhecida popularmente no Brasil como jacatira-branca), que ocorre na região do Canal do Panamá, na América Central.
Os resultados do estudo foram descritos em um artigo publicado na revista PLoS One.
“A região do Canal do Panamá, que é um hotspot de biodiversidade global, perdeu em torno de 30% das suas florestas nos últimos 50 anos em razão do avanço da agropecuária, e isso tem resultado em uma forte erosão e em um acúmulo muito grande de sedimentos nos córregos e canais, influenciando negativamente todo a bacia e o sistema hídrico da região”, afirmou Jaffé.
“Por isso, o governo do país tem interesse em recuperar as áreas desmatadas para diminuir a erosão e o acúmulo de sedimentos no Canal, e as espécies de árvores nativas pioneiras presentes na região seriam boas candidatas para serem usadas em programas de restauração”, explicou.
A fim de avaliar se áreas desmatadas constituem uma barreira para as populações dessa espécie de árvore que mede entre 3 e 6 metros de altura e está amplamente distribuída na região neotropical (que vai desde o México ao Brasil), os pesquisadores coletaram folhas de cerca de 30 árvores em período de inflorescência e infrutescência de 11 populações diferentes, espalhadas pela região do Canal do Panamá.
Em seguida, extraíram o DNA das folhas e utilizaram marcadores moleculares microssatélites – pequenas regiões do DNA, que variam de um indivíduo para outro – para obter uma assinatura genética (genótipo) de cada uma delas.
Por meio de mapas de alta resolução da cobertura florestal e elevação da região do Canal do Panamá, além de ferramentas de genética da paisagem, eles avaliaram a influência de fatores como a distância geográfica, a altitude e o desmatamento sobre a estrutura e a diversidade genética dessas populações de árvores.
Os resultados das análises estatísticas indicaram que a diferenciação genética dessa espécie de árvore que geralmente coloniza clareiras, áreas ciliares e encostas expostas, aumentou significativamente de acordo com a altitude e a distância geográfica entre as populações.
“Isso quer dizer que, quanto mais afastadas, mais diferenciadas geneticamente são as populações dessa espécie de planta, e quanto mais próximas, mais parecidas são geneticamente. Esse padrão, chamado de isolamento por distância, é esperado para a maioria das populações de plantas”, afirmou Jaffé.
As análises também indicaram que a Miconia affinis apresenta níveis mais elevados de diversidade genética intrapopulacional e menores níveis entre populações do que muitas espécies de plantas pioneiras.
Curiosamente, o nível de diferenciação genética entre populações da planta, que, no Brasil, ocorre na Mata Atlântica, Cerrado e na Amazônia, foi menor do que a média relatada para árvores tropicais, mas semelhante ao de espécies tropicais pioneiras com dispersão mediada pelo vento, apontaram os pesquisadores.
“Esse alto nível de diversidade genética e baixo nível de diferenciação genética entre as populações da planta é devido, provavelmente, à propensão das espécies para colonizar paisagens recentemente desmatadas, levando a um aumento na conectividade entre as populações em toda a região”, estimam os pesquisadores.
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