Malária, Dengue e Leishmaniose são
doenças tropicais que deverão ter a dinâmica delas alteradas pelas
transformações do clima e afetar um grupamento maior de pessoas, revela estudo
feito em 62 municípios
As mudanças
climáticas podem influenciar a dinâmica de algumas doenças, principalmente as
infecciosas. Neste caso, as doenças transmitidas por vetores, a exemplo de
Malária e Leishmaniose, podem ser especialmente influenciadas pelo clima, pois
fatores como temperatura e precipitação são capazes de interferir no ciclo
reprodutivo de insetos transmissores de doenças. A conclusão é de uma
pesquisa que identificou a vulnerabilidade à mudança do clima nos 62 municípios
do Amazonas.
De acordo com o estudo, que faz parte do projeto Vulnerabilidade à
Mudança do Clima realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria
com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), alguns municípios do Alto Rio Negro
(região Norte), da calha do Solimões (Central), Região Metropolitana de Manaus
(RMM) e porção Sul do Estado foram considerados os mais vulneráveis à
ocorrência desses eventos.
O município de São Gabriel da Cachoeira, no Norte do Estado, foi o
que apresentou a maior vulnerabilidade à ocorrência das doenças avaliadas
devido, principalmente, a maior frequência de dengue e acidentes por animais
peçonhentos. Os outros municípios com elevada vulnerabilidade nesse item foram
Tefé, com alta incidência de Leishmaniose Tegumentar, Manaus (Dengue) e Humaitá
(Leishmaniose Tegumentar).
A pesquisa – que é realizada em mais cinco Estados brasileiros:
Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraná e Pernambuco -, também
avaliou aspectos relativos à população que pode aumentar sua vulnerabilidade em
situações de mudanças do clima futuro, dentre elas, está o número de idosos,
crianças e de população ribeirinha em cada município.
O que se observou foi que grande parte do Estado apresentou uma
vulnerabilidade intermediária, com destaque para o município de Boa Vista do
Ramos (calha do rio Amazonas), o mais vulnerável do Amazonas. Conforme o
estudo, um dos fatores que contribuiu para esse resultado foi o elevado
percentual de população com alguma deficiência e a presença de jovens como
chefes de família.
Outros municípios, como os da Região Metropolitana (Manaus,
Careiro da Várzea e Itacoatiara) e do Sul do Estado (Boca do Acre e Lábrea),
também se apresentaram vulneráveis, por motivos diversos, dentre eles o elevado
contingente de população idosa e infantil, de população ribeirinha e de
mulheres chefes de família.
Integrante da equipe responsável pelo estudo, Júlia Menezes
lembrou que a mudança climática é uma realidade e as perspectivas não são muito
boas. Além disso, não tem como evitar à mudança do clima, mas pode trabalhar
para se adaptar a ela. “O que podemos fazer agora é tomar medidas de adaptação
para que a gente possa lidar com os impactos, se recuperar deles com facilidade
e garantir a qualidade de vida para a população”.
Estimativas
graves
No Amazonas, a região Nordeste do Estado poderá apresentar um
aumento de 5°C na temperatura e uma redução de até 25% no volume de chuvas nos
próximos 25 anos. Entre os municípios mais expostos à mudança do clima, nesse
mesmo período, estão Careio da Várzea e Parintins, além da Região Metropolitana
de Manaus, em virtude de desmatamentos, variações bruscas de temperatura e
poluição.
Preparando a
adaptação
Iniciado em 2014, o projeto “Construção de Indicadores de
Vulnerabilidade da População como Insumo para a Elaboração das Ações de
Adaptação à Mudança do Clima no Brasil” é um esforço conjunto do Ministério do
Meio Ambiente e da Fundação Oswaldo Cruz para a elaboração de uma proposta de
modelo de análise da vulnerabilidade dos municípios em relação aos impactos da
mudança climática global.
Espera-se que seus produtos possam subsidiar a implementação do
Plano Nacional Brasileiro de Adaptação às Mudanças Climáticas, sob a
responsabilidade do Governo da União, e orientar as políticas públicas dos
governos estaduais visando à proteção da população e seus territórios.
Informações
importantes
Além da divulgação dos dados inéditos sobre as alterações
climáticas no Amazonas, representantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de
Minas Gerais e do Ministério do Meio Ambiente (MMA) estiveram em Manaus, na
última quarta-feira, para apresentar o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do
Clima e debater sobre as mudanças do clima do País e questões relativas à
vulnerabilidade das populações.
De acordo com o representante do Ministério do Meio Ambiente,
Pedro Christ, o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima foi lançado em
maio deste ano e tem quatro anos para ser inteiramente implementado. “O
objetivo dele é reduzir os riscos do País à mudança do clima pensando num horizonte
a longo prazo”, contou.
E são exatamente através de informações de pesquisas científicas
que o governo federal elabora as ações. “É por meio desse tipo de estudo que
promovemos articulações entre atores sociais, setores de planejamento do
governo e a sociedade para levar informações a fim de que municípios e Estados
possam desenvolver suas estratégias para enfrentar as mudanças”, explicou.
Ainda conforme Christ, o interesse do Ministério do Meio Ambiente
em apoiar estudos sobre as mudanças climáticas, como o que identificou a
vulnerabilidade à mudança do clima nos 62 municípios do Amazonas, é para que
consiga desenvolver dentro do País uma visão crítica dos Estados, municípios e
da sociedade como um todo sobre a adaptação ao fenômeno.
“Dependendo da trajetória da emissão de gases de efeito estufa no
mundo o clima vai se alterando e gerando impactos. A nossa preocupação é como
se preparar para enfrentar esses impactos”, apontou. “A gente precisa saber
quais são as mudanças para se preparar e antecipar soluções”, completou.
Fonte: A CRÍTICA
Fonte: A CRÍTICA