22/09/2016

Pesquisadora se dedica a catalogar e armazenar aromas históricos

Livros antigos, luvas do século 18, capelas centenárias. Uma arqueóloga usa química e um 'nariz eletrônico' para obter uma receita dos cheiros do mundo.
Geralmente, a arqueologia se dedica a pesquisar e analisar a história por meio de registros que podem ser vistos ou tocados: quadros, tijolos, ferramentas, fósseis. Com esses elementos, pesquisadores compõem uma colcha de retalhos que, supõem, seja próxima daquilo que veríamos ou tocaríamos há centenas ou milhares de anos.
A pesquisadora argentina Cecilia Bembibre, da University City London, no entanto, se dedica a um tipo incomum de arqueologia: ela investiga, analisa e armazena aromas pertencentes a outras épocas.
Por meio de uma combinação de química analítica e um equipamento chamado de "nariz eletrônico", que detecta cheiros e sabores, Bembibre trabalha em prédios antigos e locações históricas para recuperar os odores que faziam parte do mundo de outrora - e interpretar como essas informações podem nos ajudar a compreender outras épocas.
Esse raio-x pode dar a um pesquisador pistas sobre a origem geográfica ou a época em que o material foi produzido, como fazem os cientistas que analisam a origem de pigmentos em quadros.

   Como é possível registrar e armazenar um cheiro
   
   A ciência da captura de um aroma

Primeiro, é necessário capturar o cheiro que se deseja manter - digamos, de um livro antigo ou o de uma igreja milenar. Depois, esses aromas passam por uma análise química, e os pesquisadores são capazes de identificar, um a um, os compostos responsáveis pelo aroma em questão.
O trabalho de Bembibre na universidade é feito em parceria com empresas especializadas em capturar e reproduzir cheiros, geralmente para a indústria alimentícia e cosmética. Essas indústrias fornecem os equipamentos necessários para que a pesquisadora possa analisar os aromas.

FIBRA DE CARBONO
Se o desejo é catalogar e estudar o cheiro de um objeto, a técnica usada se chama "Headspace" e consiste em colocar o objeto dentro de um saco limpo com uma válvula. O objetivo é selar, dentro do recipiente, os componentes orgânicos voláteis que dão aromas às coisas. Então, uma fibra de carbono absorvente é colocada dentro do recipiente para "capturar" os componentes voláteis.
DIFUSÃO PASSIVA
Para capturar o cheiro de um ambiente, a técnica usada é conhecida como "difusão passiva". Uma esponja de carbono é deixada no espaço para que ela absorva os aromas ao redor.
MAPA AROMÁTICO
Uma vez que os componentes voláteis do aroma estejam registrados, a amostra de carbono passa por um espectrômetro de gás, que analisa uma a uma as substâncias químicas responsáveis por aquele aroma específico. O resultado é uma espécie de "receita" do cheiro.
Por enquanto, a pesquisadora está dedicada a registrar e armazenar os cheiros de dois lugares específicos na Inglaterra. Um é uma casa, a Knole House, construída no século 15 e habitada até hoje por descendentes de uma mesma família. O outro é a biblioteca da St. Paul Cathedral, que abriga móveis e livros centenários.
Entre os objetos selecionados para análise aromática, de acordo com o site “Atlas Obscura”, que entrevistou a arqueóloga, estão um par de luvas do século 19, uma receita do século 17, cera usada para polir móveis, o cheiro de uma sala da St. Paul Chapter e até cheiros mais modernos, como o de um disco de vinil da família que mora na Knole House.
Ao “Atlas Obscura”, Bembibre contou o resultado obtido por meio da análise de um cheiro muito característico: o de um livro antigo, cujo aroma é resultado da decomposição celular dos componentes usados para produzir as folhas e as tintas.
Esse cheiro específico é composto por uma mistura de ácido acético, conhecido como vinagre, forfural, que tem aroma amendoado, benzaldeído, que tem notas de canela, vanilina, que tem cheiro de baunilha, e hexanol, cujo aroma lembra grama recém-cortada.

Fonte: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/09/20/Pesquisadora-se-dedica-a-catalogar-e-armazenar-aromas-hist%C3%B3ricos