20/08/2016

Estudo descreve quatro novas espécies de tubarão


Peter Moon | Agência FAPESP – Se algum zoólogo brasileiro anunciasse a descoberta no país não apenas de uma, mas de quatro espécies de mamíferos de médio porte de uma só vez, o achado seria festejado pela comunidade científica mundial. O mesmo entusiasmo deveria valer também para a descoberta, em uma só tacada, de quatro novas espécies de tubarões na costa brasileira.
A descrição de quatro novas espécies de tubarões foi recentemente publicada no periódico Zootaxa, em artigo assinado por Sarah Tházia VianaMarcelo Rodrigues de Carvalho e Ulisses Gomes.
A pesquisa é resultado do mestrado e doutorado de Viana – apoiada pela FAPESP com bolsas de doutorado e de estágio de pesquisa no exterior. Ela teve a orientação de Carvalho, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e especialista no estudo da sistemática, morfologia e evolução de peixes cartilagíneos, que incluem os tubarões, as raias e as quimeras. Terceiro signatário do artigo, Gomes é da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
“O estudo só foi possível graças à FAPESP, que me permitiu visitar as principais coleções do mundo, sem o que as identificações das novas espécies não teriam sido possíveis”, atesta Viana.
De acordo com Carvalho, desde os anos 1980, havia indícios recorrentes de que alguns espécimes de tubarões capturados no litoral brasileiro não coincidiam exatamente com a morfologia das espécies do gênero Squalus às quais se considerava que pertencessem.
Segundo o biólogo, isso acontece porque Squalus é um gênero que ocorre em todos os oceanos, e as descrições foram baseadas em espécimes-tipo muitas vezes antigos e malpreservados, depositados na Europa, Estados Unidos, Japão e Oceania. Outro fator é que as diferenças entre as espécies são muito pequenas. Squalus, aliás, foi um dos primeiros gêneros de tubarão descritos por Lineu ainda em 1758.
Até a publicação do artigo dos pesquisadores brasileiros, existiam 26 espécies reconhecidas de Squalus nos mares do planeta. Agora são 30. Os novos integrantes são Squalus albicaudusS. bahiensisS. lobularis, e S. quasimodo.
“São animais pequenos, quando comparados aos tubarões que estamos acostumados a ver no cinema, como o grande tubarão branco e o tubarão-tigre, ambos com mais de 5 metros”, diz Viana. As novas espécies têm cerca de 70 cm e pesam uns 4 kg.
As quatro novas espécies não habitam a plataforma continental brasileira. O seu habitat começa onde a plataforma continental termina e se estende em direção às profundezas abissais. “Eles vivem a partir dos 300 metros de profundidade. Pouco se sabe sobre a biologia desses peixes. Os exemplares que conhecemos foram capturados por pescadores com redes em alto-mar ou provenientes de coletas oceanográficas realizadas há mais de 20 anos”, afirma Viana.
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