21/08/2016

Nanopartículas reduzem os efeitos ruins da quimioterapia

Mais específicas, nanoesferas atacam células tumorais e ‘preservam’ as boas.


Queda de cabelo, ansiedade, náuseas, vômitos, anemia, fadiga e falta de apetite são alguns dos efeitos colaterais que a maioria dos pacientes de quimioterapia experimenta. Uma pesquisa brasileira que usa nanopartículas na administração da quimioterapia promete mudar completamente esse prognóstico.
Os efeitos colaterais acontecem porque os medicamentos contra o câncer não conseguem diferenciar a célula tumoral de uma partícula saudável. Assim, além de matar as células que causam a doença, elas matam células normais na mesma proporção.
Pesquisadores do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPem), órgão vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MTCI), localizado em Campinas, estão desenvolvendo uma tecnologia em que nanopartículas apliquem o medicamento diretamente sobre as células do câncer, poupando as células saudáveis.
“Para que se tenha uma ideia das dimensões, imagine que um fio de cabelo tem, em média, um diâmetro de 50 micrômetros (a milionésima parte de um metro). A nanopartícula é mil vezes menor que o diâmetro de um fio de cabelo. Por elas serem muito pequenas é que são eficientes”, conta o pesquisador Matheus Resende, do LNLS.
Ele explica que as nanopartículas são pequeníssimas esferas com a superfície cheia de furinhos, como se fossem bolas de golfe. Dentro desses furos, os cientistas conseguem colocar o medicamento quimioterápico que será utilizado no ataque à célula doente.
Essas nanoesferas também são revestidas com uma substância para a qual as células tumorais têm muitos receptores. No caso da pesquisa brasileira, são folatos. “É quase que um complexo de vitamina B. As células sadias têm receptores de folato, mas as células tumorais apresentam de 200 a 300 vezes mais receptores. Ela quer folato a qualquer custo. Dessa forma, a nanopartícula é preferencialmente atraída para a célula tumoral em vez de ir para as células sadias”, explica Resende.
O resultado desse processo é que as células saudáveis não são tão atacadas pelo medicamento como as tumorais, e o paciente experimenta menos efeitos colaterais do tratamento. Nos estudos realizados por Resende e sua equipe, o medicamento matou cerca de 80% de células do câncer, contra somente 15% a 20% de células normais. É uma proporção de quatro células doentes para uma saudável, uma diferença grande para a quimioterapia convencional.
Perspectiva. Para o pesquisador, a tendência para quando essa técnica estiver completamente desenvolvida é que se tenha uma terapia completamente personalizada para o paciente. “A pessoa receberá o diagnóstico de câncer e passará por uma coleta de amostra das células tumorais. O exame irá mostrar a qual tipo de medicação essas células reagem melhor e quais tipos de receptores elas têm em sua superfície. Assim, o paciente receberá um medicamento sob medida para sua doença”, explica o cientista.
Mas esse avanço, por enquanto, está longe de ser alcançado. A pesquisa realizada no LNLS ainda está na fase de testes in vitro. “Ainda não houve testes em animais nem em humanos. Agora, preciso de instituições e pesquisadores parceiros para a realização desses testes”, explica Resende.
Ele também precisará de uma verba maior para as próximas etapas de sua pesquisa. Por isso, prevê que essa tecnologia não será disponibilizada aos pacientes antes da próxima década. “Mas é um avanço significativo do ponto de vista da ciência e da saúde. Precisamos sempre dar o primeiro passo”, conclui.
Fitoterápico
Pesquisa. O primeiro medicamento usado pelo cientista Matheus Resende foi a curcumina, substância extraída da cúrcuma que tem conhecidas propriedades antitumorais.

CARCINOMA ORAL

Estudo vê marcadores de proteína da doença

No Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPem), outra pesquisa conseguiu identificar diferenças na saliva das pessoas com carcinoma oral de células escamosas (OSCC), um dos tipos mais comuns de câncer de boca, que leva 20% dos pacientes à morte em até cinco anos depois do diagnóstico.
O teste elaborado pelos pesquisadores levou à identificação de 38 proteínas presentes na saliva de pacientes com lesões ativas do câncer e cinco proteínas que só aparecem em pacientes que, apesar de terem o câncer, não têm as lesões.
“O estudo abre caminho para a definição de proteínas marcadoras de prognóstico que poderão auxiliar a decisão clínica dos oncologistas. Além disso, as proteínas selecionadas refletem alterações em mecanismos celulares que podem ajudar a elucidar o surgimento e a progressão desse tipo de câncer oral”, diz Adriana Paes Leme, coordenadora da pesquisa. (RS)
Tratamentos
O desafio do alto custo. Um dos principais desafios no financiamento da assistência oncológica na rede pública é o preço cobrado pelas drogas mais inovadoras. As novas tecnologias e medicamentos tornaram-se mais efetivos contra os tumores, mas o processo de descoberta dessas terapias encarece o produto final. “Conseguimos olhar o alvo e quase que desenhar uma molécula capaz de destruir a célula tumoral. Só que essas drogas chegam caras ao mercado”, explica Riad Younes, diretor do centro de oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Linfomas
Hodgkin e não Hodgkin. Um dos tipos de câncer que deverá crescer com o envelhecimento da população é o linfoma, tumor que atinge o sistema linfático, estrutura do corpo que tem como uma de suas principais funções a produção de células de defesa. A doença se divide em dois grupos: Hodgkin e não Hodgkin. O primeiro atinge jovens entre 15 e 30 anos e tem maior chance de cura. O segundo é mais prevalente, correspondendo a cerca de 80% de todos os casos da doença, e está mais relacionado ao avanço da idade.
Fonte: O Tempo