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19/08/2016

Os primeiros humanos não se espalharam pelas Américas por terra, diz nova teoria


Os primeiros humanos não se espalharam pelas Américas pelo caminho que é normalmente indicado pelos arqueólogos, diz um estudo publicado na última edição da revista Nature. Segundo os pesquisadores , é precisa uma nova teoria para a colonização das Américas, já que a suposta rota de entrada era "biologicamente inviável".

As primeiras pessoas a chegar às Américas atravessaram uma antiga ponte terrestre entre a Sibéria e o Alasca, segundo a teoria mais aceite, mas depois tiveram de esperar que as massas de gelo que cobriam o que agora é o Canadá começassem a recuar, criando um corredor livre de gelo que lhes permitiu migrar para sul.

Num novo estudo publicado na revista Nature, uma equipa internacional de pesquisadores recorreu ao ADN extraído de um ponto crucial deste corredor para pesquisar a evolução do ecossistema depois do degelo dos glaciares. Com estes dados conseguiram criar um retrato muito completo que mostra quando a passagem se tornou viável para os humanos, concluindo que as viagens podem ter começado há 12 600 anos, mas que antes não seriam possíveis.

Recuando mais no tempo, faltava a esta faixa de território recursos fundamentais, como a madeira para servir de combustível e ferramentas, e animais para a alimentação.

Se estes dados estiverem corretos, os primeiros americanos, de uma cultura pré-histórica americana denominada Clovis, que deixaram marcas no território a sul dos glaciares muito antes, tiveram de seguir outra rota. Os autores do estudo indicam que estes provavelmente migraram ao longo da costa do Pacífico.

"Apesar de o corredor estar aberto há 13 mil anos, foram precisas algumas centenas de anos até ser possível usá-lo", explica Eske Willerslev, a geneticista da Universidade de Copenhaga que liderou a pesquisa. "Isto significa que as primeiras pessoas a entrar no que agora é os Estados Unidos, na América Central e na do Sul tiveram de seguir uma rota diferente."

Fonte: Diário de Notícias
Imagem:  MIKKEL WINTHER PEDERSEN

20/06/2016

Manteiga com 2000 anos enterrada num pântano é descoberta na Irlanda



Um agricultor irlandês encontrou um pedaço de manteiga com cerca de 10 kg enterrado num pântano, conta o The Irish Times. Este pedaço pré-histórico de manteiga pode ter cerca de 2000 anos, e foi entregue ao Museu Nacional da Irlanda, onde vai ser preservado.

O agricultor, Jack Conway, contactou o Museu de Cavan County para explicar que tinha descoberto “um grande pedaço de manteiga [bog butter] enquanto trabalhava no pântano de Emlagh, perto da sua casa”.

Um funcionário da Divisão de Antiguidades Irlandesas, Andy Halpin, explicou ao jornal que a descoberta é relevante por ter vindo da área de Drakerath, uma zona onde se encontravam as fronteiras de três regiões pré-históricas. “É a junção de três reinos separados, e politicamente era uma espécie de terra de ninguém”, disse Andy Halpin.

Mas porque aparece manteiga enterrada em pântanos? O processo era comum: a manteiga era enterrada para ser preservada, e mais tarde recolhida. O museu de Cavan County explica que os “pântanos possuem excelentes propriedades para a preservação” daquela gordura animal, destacando a “baixa temperatura, baixo nível de oxigénio e o ambiente ácido”.

Mas esta descoberta pode ser diferente. Andy Halpin considerou que o pedaço descoberto em Drakerath podia não ser para desenterrar futuramente, visto que estava a cerca de três metros e meio de profundidade e não tinha nada que o identificasse à superfície. De acordo com o museu de Cavan County, “a manteiga era um alimento de luxo na Irlanda medieval” e era usada como oferta aos espíritos e aos deuses “para proteger as pessoas e as suas propriedades”. “Quando usada como oferta, a manteiga era enterrada para nunca mais ser desenterrada”, explica o museu.

O The Irish Times conta que estas descobertas são comuns na Irlanda e na Escócia. A substância, com o aspeto de uma espécie de cera esbranquiçada, era enterrada dentro de recipientes de madeira ou de animais.

Mas esta manteiga pode comer-se? Bom, o chef Kevin Thornton, uma celebridade na Irlanda, contou que já provou esta manteiga dos pântanos. Contudo os peritos não recomendam a experiência, e explicam que a substância é quebradiça e tem um cheiro forte a queijo. Andy Halpin conclui: “teoricamente ainda se pode comer, mas eu não diria que é aconselhável”.

Fonte: Observador
Foto: cavanmuseum

08/06/2016

Cientistas encontram fóssil inédito de ancestral de ‘hobbit’ de 700 mil anos


Em 2004, cientistas revelaram a impressionante descoberta de fósseis de uma espécie humana até então desconhecida. Os remanescentes encontrados na ilha de Flores, na Indonésia, pertenciam a um hominídeo de apenas um metro de altura que, pela diminuta estatura, foi apelidado de "hobbit", criatura ficcional que aparece nos romances de J.R.R. Tolkien.

Dez anos depois, em 2014, pesquisadores encontraram na mesma ilha fósseis pertencentes aos ancestrais dos hobbits, criaturas ainda menores que viveram no local há 700 mil anos, mais de 500 mil anos antes do que os Homo florensiensis revelados em 2004.

A descoberta, descrita em dois artigos publicados nesta quarta-feira (8) na revista “Nature”, dá pistas sobre a evolução do Homo floresiensis e soluciona uma dúvida sobre o que poderia explicar a estatura tão pequena da espécie: seriam descendentes do Homo erectus que encolheram ao longo dos anos vivendo na ilha ou teriam eles evoluído de espécies mais primitivas e menores, como o Homo habilis ?

O achado revela não apenas que a primeira hipótese é a mais provável, mas também que esse processo de encolhimento provavelmente ocorreu de forma muito rápida em termos evolutivos: ao longo de cerca de 300 mil anos.

“Trezentos milênios podem não parecer um período ‘curto’ de tempo para muitos leitores. Mas não se conhece nenhuma transformação tão dramática na evolução dos hominídeos que tenha ocorrido em uma escala de tempo tão breve”, afirma a cientista Aida Gómez-Robles em um comentário sobre a pesquisa também publicado na “Nature”.

Entre os fósseis descobertos estão um fragmento de mandíbula e seis dentes de ao menos três hominídeos distintos.

“A morfologia dos fósseis dos dentes também sugerem que essa linhagem humana representa um descendente ‘encolhido’ dos primeiros Homo erectus que de alguma forma foram parar na ilha de Flores”, diz o cientista Yousuke Kaifu, do Museu Nacional de Natureza e Ciência de Tóquio, um dos autores da pesquisa. “O que é verdadeiramente inesperado é que o tamanho do achado indica que o Homo floresiensis já tinha obtido o tamanho pequeno há pelo menos 700 mil anos.”

O cientista Gerrit van den Bergh, da Universidade de Wollongong, na Austrália, também autor do estudo, observa que foram encontrados, na mesma região, artefatos que datam de ao menos um milhão de anos, o que indica que essa linhagem estava presente na ilha ao menos 300 mil anos antes daqueles exemplares descobertos. Por isso acredita-se que o processo de encolhimento tenha se dado nesse intervalo de tempo.


Fonte: G1
Foto: Reprodução The Hobbit

Peças arqueológicas indígenas em exposição no Museu Amazônico


O Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas realiza nesta quinta-feira, 9, às 19h, a abertura da “Exposição de Projeto Zona Leste”. O material arqueológico a ser exposto terá peças que datam dos séculos Vll a XVI, pertencentes à Filiação Cultural da fase Paredão e Policromia da Amazônia.
As peças foram resgatadas de sítios arqueológicos da área urbana de Manaus (zona Leste) e de outros municípios do Amazonas por pesquisadores da Divisão de Arqueologia do Museu Amazônico. São diversos tipos de peças utilizados por etnias que viveram na área da zona Leste, como também em outros municípios do Amazonas.
Manaus é uma das capitais brasileiras mais ricas em termos de patrimônio arqueológico pré-colonial. Em sua área urbana e no seu entorno, já foram identificadas vários sítios. Na zona Leste, pesquisas arqueológicas sugerem que a região e seu entorno foi densamente ocupada com uma história indígena que remonta milhares de anos.
O maior número de artefatos intactos com as devidas restaurações vem dos sítios da zona Leste de Manaus. É a área de atuação do Projeto Zona Leste, que tem parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN-, com o Ministério Público Federal do Amazonas e Museu Amazônico.
O Museu Amazônico localiza-se na Rua Ramos Ferreira nº 1036, no Centro. Horário de visitação de segunda-feira a sexta-feira das 9h às 12h e das 14 às 17h.

Fonte: UFAM

07/06/2016

Arqueólogos encontram vestígios de massacre de 6.000 anos na França



Uma equipe de arqueólogos descobriu vestígios de um massacre ocorrido há mais de 6.000 anos no leste da França, a prova de uma "fúria guerreira ritualizada", de acordo com eles.

Em Achenheim, a cerca de 10 km de Estrasburgo, uma equipe do Inrap (Instituto Nacional de Pesquisa Arqueológica), descobriu um conjunto de mais de 300 "silos", fossas cobertas que serviam principalmente para armazenar grãos e outros produtos do neolítico.

Estes depósitos estão localizados dentro de um grande recinto, representado por um fosso em forma de V. Um dispositivo defensivo que evoca "tempos confusos, um período de insegurança que, no período neolítico médio entre 4400 e 4200 a.C, forçou as pessoas a se protegerem", explicaram os arqueólogos do Inrap numa coletiva de imprensa.

Na parte inferior de um dos depósitos foram encontrados os restos de dez indivíduos, aparentemente vítimas de uma chacina.

Os arqueólogos encontraram seis esqueletos completos com várias fraturas, especialmente nas pernas, mãos e crânio. Os pesquisadores acreditam que se trata de guerreiros, uma vez que todos eram do sexo masculino.

"Eles foram severamente torturados e receberam golpes violentos, esmagados por machados de pedra", disse Philippe Lefranc, especialista do neolítico no Inrap.

Foram encontrados também quatro braços de três homens e de um jovem com idade entre 12 e 16 anos.

Estes braços eram, sem dúvida "troféus guerreiros", como os que foram encontrados em 2012, em Bergheim, no norte de Estrasburgo, de acordo com Lefranc.

O Inrap apontou que "esta crueldade e mutilação de cadáveres" poderia ser a "expressão de uma fúria guerreira ritualizada".

Fonte: AFP
Foto: Philippe Lefranc/AFP

06/06/2016

Análise de fóssil raro de monstro jurássico aponta para descoberta de nova espécie


Centenas de ossos estão espalhado pelo chão, e Hilary Ketchum, do Museu de História Natural da Universidade de Oxford, no Reino Unido, se oferece para remontá-los para mim.
Ela leva mais de uma hora para colocar todas as partes de Eva, o plesiossauro, em seus devidos lugares. Assim, é possível ver claramente a dimensão gigantesca do animal, com suas grandes nadadeiras e pescoço comprido.
Os plesiossauros dominaram os oceanos por mais de 100 milhões de anos antes de serem extintos ao mesmo tempo que os dinossauros.
Até hoje, ainda restam dúvidas sobre sua biologia, anatomia e evolução.
Fósseis raros
Plesiossauros são animais bem incomuns, diz Ketchum, que supervisiona espécimes geológicos no museu britânico.

"Eles são um tipo de réptil com parentesco com outros répteis, como dinossauros, crocodilos, ictiossauros e tartarugas, por exemplo, mas não sabemos exatamente onde se encaixam neste universo", afirma a cientista.
O animal foi encontrado por um grupo de arqueólogos amadores a partir de uma lasca de osso achada em uma pedreira.
"Um dia, um dos membros do grupo achou um pequeno osso de uma nadadeira em uma porção de argila. Depois de investigar mais, eles encontraram mais e mais ossos até descobrir o esqueleto completo", diz Ketchum, apontando para o esqueleto de 165 milhões de anos no chão ao seu lado.
"É muito empolgante, porque pensamos que se trata de uma nova espécie. Se não for, é algo bem incomum. Fósseis de plesiossauros são muito raros, especialmente um exemplar completo como esse."
Pedra jurássica
O fóssil foi achado na cidade de Peterborough, no leste da Inglaterra, por Mark Wildman e membros do Grupo de Trabalho Oxford, uma equipe formada por arqueólogos profissionais e amadores.

Eles o batizaram de "Eva", já que se tratou de seu primeiro grande achado. Mas seu sexo não foi identificado. O único fóssil de plesiossauro confirmado como fêmea até hoje foi encontrado com um bebê dentro.
Eva foi achada em 2014 em meio a uma camada de rochas jurássicas que esteve um dia sob um oceano e é conhecida por conter esqueletos de animais marinhos antigos, como plesiossauros e icitiossauros.
Essa camada, conhecida como Oxford Clay, se estende por uma faixa que corta a Inglaterra do sul ao nordeste e é exposta na superfície em pedreiras no entorno de Oxford, Peterborough e Weymouth, onde foram feitas muitas descobertas de fósseis durante a era vitoriana.
O fóssil de Eva foi doado pelos donos da pedreira Fonterra para o museu da Universidade de Oxford, onde funcionários passaram meses limpando-o e reparando danos.
'Ossos bonitos'
Em um laboratório ao lado do museu, Juliet Hay retira delicadamente a argila do crânio do réptil com um bisturi. O cuidado neste processo é necessário para preservar os delicados ossos e dentes.

É uma tarefa trabalhosa e que requer nervos de aço, mas essencial para preparar o crânio para novas análises.
Algumas semanas depois, no portão do edifício de Ciências da Vida da Universidade de Bristol, conheço Roger Benson, que está investigando o fóssil.
Conforme o crânio entra no aparelho de tomografia computadorizada, ele fala sobre a descoberta: "Acho que vamos ver alguns ossos bem bonitos".
'Animal inédito'
O crânio já passou pelo mesmo processo no Royal Veterinary College, em Londres, para análise da posição dos ossos e dentes dentro do bloco de argila.

Desta vez, a máquina de tomografia mais potente pode revelar os segredos de Eva e determinar se ela é de uma nova espécie.
"Está claro nestas imagens de alta resolução que temos em mãos ossos muito bem preservados que nos darão muita informação", diz Benson.
"Pelo que vimos até agora do seu corpo, sabemos que tem algumas características diferentes em comparação com outros animais que já vimos, então, é bem provável que seja um animal inédito para a ciência."
Ele afirma que novas análises dos detalhes do crânio podem ajudar a confirmar isso. Também ajudarão Juliet Hay a extrair ossos com mais precisão.
"É como montar um quebra-cabeça quando você tem apenas a foto na tampa da caixa", acrescenta.
Fonte: Helen Briggs/BBC
Foto: BBC

02/06/2016

Adaga de Tutancâmon era feita de ferro de meteorito, diz estudo


Análises científicas de uma adaga, embalsamada há mais de 3,3 mil anos e que pertencia ao faraó Tutancâmon, reforçam a teoria de que o objeto teria sido feito com ferro de meteorito, segundo um estudo recente divulgado nesta quinta-feira (2).

"A composição da lâmina, determinada com precisão graças à espectrometria de fluorescência de raios X, sustenta firmemente sua origem meteórica", diz o estudo, realizado por cientistas italianos e egípcios no Museu Egípcio, no Cairo. "Sugerem fortemente uma origem extraterrestre".

Os pesquisadores descobriram que a lâmina contém 10% de níquel e 0,58% de cobalto, componentes essenciais do ferro encontrado em meteoritos. Com a empunhadura decorada em ouro e uma bainha feita do mesmo material, o punhal de ferro sempre intrigou arqueólogos, já que a ferraria não era uma prática difundida no Egito antigo, como divulgou a agência BBC Brasil.

A adaga não se oxidou ao longo de três milênios e foi encontrada entre as faixas da múmia do faraó, na altura da coxa direita.

Tutancâmon, morto no ano 1324 antes de Cristo, após um breve reinado de nove anos, se tornou um dos faraós mais conhecidos do Egito Antigo graças ao seu tesouro funerário, o mais extraordinário descoberto no país.

Sua tumba, encontrada em 1922 pelo egiptólogo britânico Howard Carter, escondia mais de 5.000 objetos intactos, grande parte deles de ouro maciço.
O faraó herdou o trono quando tinha apenas 8 ou 9 anos. Um dos grandes feitos de seu curto mandato foi a recuperação dos templos de Amón, danificados durante o governo de seu pai, Aquenáton.

A história de sua morte é rodeada por incertezas. É possível que Tutancâmon tenha sido assassinado ou não resistido às consequências de uma lesão adquirida enquanto caçava. Em 1925, três anos depois da descoberta da tumba, Carter encontrou as duas adagas dentro do sarcófago da múmia.

Os resultados do novo estudo, publicado em maio na revista científica americana "Meteoritics and Planetary Science", estão em consonância com outro trabalho, realizado em 2013.

Na ocasião, pesquisadores escanearam um cemitério de 5.000 anos de antiguidade na região do Baixo Egito e descobriram que os objetos mais antigos já encontrados eram feitos a partir de meteoritos.

"Nosso estudo sugere que os antigos egípcios atribuíam grande valor ao ferro de meteoritos para a produção de objetos ornamentais ou cerimoniais", afirmam os autores. "A qualidade da fabricação do punhal" demonstra que na época de Tutancâmon os egípcios já tinham um "domínio significativo do ferro ornamental".

Segundo os cientistas, os faraós sabiam da origem meteórica do ferro que utilizavam, visto que durante a 19ª dinastia egípcia (de 1292 a 1187 antes de Cristo), surgiu um novo termo para se referir a este metal: "o ferro do céu".

"A introdução deste termo sugere que os antigos egípcios eram conscientes de que estes raros pedaços de ferro caiam do céu", posicionando-se "mais de dois milênios à frente da cultura ocidental", diz o texto da pesquisa.

Fonte: G1
Foto: Reprodução/Twitter/Università di Pisa

26/05/2016

Arqueólogos encontram "receita" de cerveja produzida há cinco mil anos


Um grupo de arqueólogos que estudava recipientes de cerâmica encontrados na província de Shaanxi, na China, diz ter descoberto resíduos que indiciam a produção de cerveja há cinco mil anos. Os resíduos permitem reconstruir a primeira "receita" de cerveja da história da China - numa era conhecida como o período Yangshao, no Neolítico

Os restos de cerâmicas encontrados num sítio arqueológico - e datados de 3400 a 2900 aC - revelaram os indícios mais antigos de fabricação de cerveja na China, segundo um artigo publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

A bebida produzida seria sofisticada e elaborada à base de várias plantas, entre elas a cevada e um tipo de milho. A identificação dos restos de cevada no sítio de Mijiaya, no nordeste da China, "representa a presença mais antiga na China desse cereal proveniente da Europa, o que supõe que seu cultivo no país data de mil anos antes" do que se pensava, afirma o estudo.

"Isso indica que a cevada foi usada durante muito tempo para fazer cerveja antes de se converter em cultivo agrícola", acrescentam os investigadores.

Fonte: Diário de Notícias
Imagem: Freepik

11/05/2016

Machado encontrado na Austrália tem quase 50 mil anos, diz estudo



Um fragmento de lâmina de rocha encontrado na Austrália pode ser o machado mais antigo do mundo, com cerca de 50 mil anos, logo após a chegada do ser humano ao continente, revelaram especialistas nesta quarta-feira (11).

O fragmento, do tamanho de uma unha de polegar, foi encontrado no oeste da Austrália, na região de Kimberley, uma área pouco habitada do país.

A ferramenta revela que os primeiros habitantes do continente tinham uma tecnologia inovadora e inventiva. "Este é, sem dúvida, o machado mais antigo do mundo", disse Peter Hiscock, acadêmico da Universidade de Sydney.

A peça, encontrada na década de 90, teve sua importância reconhecida apenas recentemente, graças às novas tecnologias.

"É um fragmento relativamente pequeno, não tem mais que um centímetro", explicou Hiscock, que utilizou um microscópio digital para analisar a rocha e determinar que foi talhada a mão. 

"Provavelmente não é o machado mais antigo já produzido, seria extraordinário encontrá-lo, mas não acredito que terei esta sorte", brincou Hiscock.

A ferramenta teria sido produzida há entre 46 mil e 49 mil anos, poucos milhares de anos após a chegada do homem à Austrália, há cerca de 50 mil anos.

A descoberta será publicada na revista Australian Archaeology.

A professora da Universidade Nacional da Austrália Sue O'Connor, que localizou o fragmento, 
destacou que "em nenhum lugar do mundo foram encontrados machados desta época", recordando que este tipo de ferramenta surgiu no Japão há 35 mil anos.

Fonte: AFP
Foto: STR / AFP Photo

06/05/2016

Unesp inaugura Museu de Arqueologia Regional em Prudente


O Museu de Arqueologia Regional, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), foi inaugurado nesta quinta-feira (5), às 15h, em Presidente Prudente. A solenidade é aberta ao público e aos pesquisadores da área.

De acordo com a Unesp, um dos destaques do museu é a sala de exposição “José Luiz de Morais”, que oferece para a comunidade materiais arqueológicos de grupos indígenas agricultores Guarani (grupo Tupi-Guarani), Kaingang e Kaiapó (Grupo Jê) pré-históricos, representados por cerâmicas, pedras lascadas e pedras polidas, assim como de grupos caçadores-coletores, representados por  pedras lascadas (notadamente pontas de flecha, raspadores e furadores).
Segundo a curadora Neide Barroca Faccio, “esses materiais apresentam contextos de sítios datados de 250 a 1.668 anos Antes do Presente”.

Com prévio agendamento, o museu ainda abre espaço para os visitantes realizarem oficinas como as de argila (confecção de potes), arte rupestre, pintura em cerâmica Guarani e lascamento em pedra. O espaço também oferece oficinas e cursos de atualização para professores.

De acordo com a curadora do museu, a docente Neide Barroca Faccio, do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), as visitas monitoradas têm como objetivos tornar conhecidas as etapas do trabalho do arqueólogo no campo e no laboratório, a origem e a história das peças em exposição e, ainda, informar sobre o modo de vida dos índios que confeccionaram os objetos.

“O objetivo é apresentar o museu como um todo: pesquisas de campo, curadoria, pesquisas de laboratório, exposição dos materiais estudados, educação patrimonial e publicações”, afirmou a professora.

Ainda segundo a Unesp, o museu também é formado pelo Laboratório de Arqueologia Guarani e de Estudos da Paisagem. Conforme a curadora, o laboratório tem como foco o trabalho na evidenciação e no registro de sítios arqueológicos no Estado de São Paulo, porém, “é possível fazer curadoria e estudo de materiais líticos e cerâmicos pré-históricos, e estudos do patrimônio histórico (vestígios de edificações, louças, porcelanas, vidros e metais)”, ressaltou.

Além das curadorias e das pesquisas, o laboratório realiza restauro de vasilhas cerâmicas indígenas pré-históricas para apresentá-las à comunidade. Segundo Neide, o estudo de técnicas de restauro de vasilhas arqueológicas tem contribuído para a divulgação da cultura de grupos indígenas cuja importância para a formação da cultura brasileira é reconhecida.

A instituição fica no Núcleo Morumbi da Unesp, localizado na Rua Cyro Bueno, 40, no Jardim Morumbi, em Presidente Prudente.

Fonte: G1
Foto: Divulgação

04/04/2016

Operários de Gaza encontram ruínas de cerca de 1.500 anos atrás


Operários de uma construção em Gaza descobriram ruínas antigas que, segundo arqueólogos, podem ser parte de uma igreja bizantina de aproximadamente 1.500 anos de idade, informou o Ministério do Turismo e Antiguidades palestino nesta segunda-feira (4).
Entre as descobertas estão segmentos de pilares de mármore com capitéis coríntios ornamentados, um deles com quase 3 metros de comprimento, e uma pedra de fundação de 90 centímetros com um símbolo grego de Cristo. Quinze peças foram desenterradas, e as escavações continuam.
"Nossa primeira ideia é que o local é uma catedral ou igreja do período bizantino", disse Jamal Abu Rida, diretor-geral do ministério. "Durante aquela era, havia um grande interesse dos governantes bizantinos em construir igrejas na Faixa de Gaza".

Antes do islamismo
Gaza foi um porto marítimo próspero durante o período romano, com uma população diversificada de gregos, romanos, judeus, egípcios e persas. Templos pagãos foram destruídos nos séculos 4 e 5 d.C., e a construção de igrejas era uma prática generalizada.
Isso continuou até o general muçulmano Amr ibn al-As conquistar Gaza em 637 d.C., data após a qual a maioria da população adotou o islamismo e locais de culto cristão foram abandonados.
"Ouso dizer que o local tem valor histórico", afirmou Abu Rida, estimando que as ruínas datam de um período entre o ano 395 d.C. e o final dos anos 600 d.C.
A descoberta ocorreu no sábado, quando operários preparavam o terreno para um shopping center. O Ministério do Turismo e Antiguidades foi chamado e imediatamente descobriu três grandes peças. Mais tarde outras doze foram recuperadas.   

Fonte: Reuters
Foto: Mohammed Salem/Reuters

28/03/2016

Maconha conservou pintura de 1500 anos em caverna


A cannabis foi fundamental para conservar durante 1.500 anos as pinturas em uma caverna da Índia, até que cientistas descobriram agora este segredo oculto durante 15 séculos para deleite dos que pedem a legalização desta droga no país.
O cânhamo índico que ficou impregnado nas paredes e no teto de uma das grutas de Ellora no século VI, foram o segredo do "ambiente saudável, confortável e esteticamente prazeroso" que, segundo um recente estudo, desfrutaram os eremitas que a habitaram.
A vida contemplativa dos monges budistas que foram seus moradores deu passagem em nossos dias à curiosidade dos turistas que visitam a cavidade, uma das 34 cavernas declaradas Patrimônio da Humanidade pela Unesco nesta paisagem do oeste da Índia.
Ninguém tinha imaginado que o segredo da conservação dos afrescos nas rochas desta gruta estava na droga ilegal mais consumida do mundo, até os estudos dos cientistas indianos Milind Madhav Sardesai, botânico, e Manager Rajdeo Singh, arqueólogo.
"É o primeiro lugar onde foi encontrada esta combinação de cânhamo com argila e gesso nos afrescos", garantiu à Agência Efe Sardesai, pesquisador da Universidade Babasahed Ambedkar Marathwada na cidade vizinha de Aurangabad.
Singh, que trabalhou no local para o Serviço Arqueológico da Índia, corroborou que é a "primeira ocasião em que um estudo detalhado mostra a combinação da cannabis na lama de cal".
A maconha já foi achada em restos de uma mistura, mas com uma composição distinta à de Ellora, que foi usada como cimento em uma ponte na França que também data do século VI, mas que durou "só" entre 600 e 800 anos.
No entanto, "em Ellora as pinturas nos afrescos sobreviveram durante 1.500 anos e ainda seguem fortes", ressaltou Singh sobre a fórmula que foi usada para evitar a deterioração dos desenhos de plantas e figuras geométricas de tons mate em paredes e tetos, expostos aos raios do sol e à chuva que entram na caverna.
A mistura atuou como fixador na rocha, isolador de umidade e repelente de insetos, além de ser mais consistente e duradoura.
Nas grutas vizinhas de Ajanta, também declaradas Patrimônio da Humanidade, os artistas optaram por acrescentar casca de grãos de arroz na composição empregada para fixar os afrescos, com o resultado de um gesso mais brando que foi sendo perfurado pelos insetos.
A combinação descoberta em Ellora teria sido bem utilizada em muitos monumentos com problemas de conservação pela umidade em países como o Reino Unido, ressalta o trabalho publicado na revista científica "Current Science".
Além disso, a descoberta foi feita no momento em que cresce o grande movimento para legalização da maconha na Índia, dando novos argumentos à luta para descriminalizar esta planta, originária da Ásia e sagrada para o hinduísmo.
"Boa razão para legalizá-la", comentou Murai Lal, um dos seguidores deste movimento, através do perfil deste grupo no Facebook, enquanto outro adepto, Joel Michael Rebello, defendeu que a descoberta revela outra das muitas "vantagens" da erva.
Mais precavida, no entanto, se mostrou a polícia sobre as revelações científicas.
"A maconha está proibida pela Lei de Drogas Narcóticas e Substâncias Psicotrópicas", advertiu ao jornal "The Times of India" o delegado de Aurangabad, Amitesh Kumar, já que "não se pode cultivar, transportar, possuir ou consumir".
Apesar da advertência policial, esta legislação de 1985 tem resquícios que tornam legal o consumo de folhas de cannabis silvestre, mas não o cultivo da planta ou sua venda, salvo que uma lei regional permita seu comércio regulado, algo que quase não ocorre.
Porém, na prática, a erva é tolerada com fins supostamente religiosos, como na festa hindu de Holi, na qual é tão típico se lambuzar com pós de cores como consumir "bhang", uma bebida que leva cannabis. 
Fonte: EFE
Foto: OpenRangeStock

10/03/2016

Exposição no Museu de Arqueologia e Etnologia apresenta o cotidiano na cidade antiga grega


Nesta quinta-feira, 10 de março, o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP inaugura a exposição histórico-arqueológica “Pólis: Viver na Cidade Grega”. Centrada no estudo do espaço onde estavam inseridos originalmente os objetos expostos, a mostra tem como objetivo exibir como era a vida em uma cidade grega antiga, desenvolvida dentro das casas, cidades e templos, entre outros lugares.

“A ideia é associar os artefatos a esses espaços”, diz a curadora da exposição, professora Elaine Hirata, do MAE, especialista em arqueologia mediterrânea. “Os artefatos não são os protagonistas, digamos, mas sim sua função. Queremos mostrar que eles não são excepcionais, mas, na verdade, análogos aos que temos hoje”, diz Elaine.

A exposição é baseada em pesquisas atuais sobre o tema – realizadas na USP e em outras instituições – que mudaram, de alguma forma, a perspectiva sobre as cidades gregas antigas. “A exposição vai do período de formação à consolidação do processo da pólis. Ou seja, compreende os períodos arcaico (do século 9 ao 6 a.C.), quando começam a aparecer as primeiras cidades no Mediterrâneo, e chega até o período clássico (séculos 5 e 4 a.C.), quando as póleis estão funcionando de maneira efetiva. Nossa coleção não é específica, mas os objetos mostrados foram usados nessas duas épocas tratadas”, explica Elaine.

Por exemplo, a iluminação das casas era feita por lamparinas, que possuíam pavios alimentados por azeite de oliva. Haverá também a exposição de um elmo, objeto importante para a vida grega por esta ser recheada de conflitos armados em busca de territórios.

“Uma exposição de arte selecionaria os melhores exemplares para mostrar estilo. Já a nossa quer mostrar o cotidiano dessas populações. Por isso nós escolhemos as peças que estavam no contexto que vamos trabalhar. Por exemplo, na exposição temos um tablado com a planta de uma casa e, no espaço da cozinha, colocamos uma ânfora, um vaso que armazenava vinho ou azeite. São artefatos contextualizados, não objetos de arte”, descreve a professora.

Maquete representa a cidade de Olinto, no norte da Grécia. Nela, vemos uma área mais antiga, à esquerda , embaixo, na qual as casas não estão organizadas dentro de uma malha viária. É um centro histórico datado do século 5 a.C., a civilização grega sofre um processo de consolidação da pólis e surgem as cidades planejadas

Cidades
Além das peças, a exposição conta com maquetes de duas cidades gregas, Olinto e Selinonte, construídas no MAE a partir de referências arqueológicas. A primeira ficava ao norte da Grécia antiga. De acordo com a mitologia, foi fundada pelo filho de Héracles (Hércules, para os romanos), cujo nome batizou a cidade. Nela, é clara a evolução do processo de consolidação da pólis. Por exemplo, nota-se nas regiões mais altas – as primeiras a serem ocupadas, por questões estratégicas de defesa – uma ocupação desordenada. Já as moradias mais recentes seguem um padrão ortogonal, ao redor da ágora – espécie de praça pública, onde acontecia a vida política da cidade-Estado. Olinto ficou eternizada como tema de três discursos de Demóstenes (384-322 a.C.), conhecidos como Olintíacas, em que o orador ateniense tenta convencer os cidadãos de Atenas a socorrer aquela cidade contra as pretensões expansionistas de Filipe, rei da Macedônia.

Já a segunda cidade mostrada em maquete, Selinonte, ocupava a costa oeste da Sicília, na Itália, fundada no final do século 7 a.C. Na maquete, observa-se com clareza a acrópole, ponto mais alto do terreno, onde ficavam os templos dedicados às divindades. Registros arqueológicos indicam que essa era uma cidade portuária.

Haverá também exibições digitais, nas quais os espectadores poderão andar por uma casa ou um templo grego.

Cidades surgiram no período arcaico
Wagner Souza e Silva Cerâmica ática do século 5 a.C., em técnica de figuras vermelhas A exposição “Pólis: Viver na Cidade Grega” trata do estilo de vida dos gregos nos chamados períodos arcaico e clássico da Antiguidade. “Um dos objetivos da exposição é, também, mostrar que o mundo grego não se restringiu a Esparta e Atenas, o que foi uma idealização criada pela historiografia”, pontua a curadora da mostra, professora Elaine Hirata, do MAE.

A Grécia antiga compreendia a região chamada Hélade, que ocupava desde o sul dos Bálcãs, passando pela Península do Peloponeso e pelas ilhas do Mar Egeu, até a Ásia Menor e o sul da Península Itálica, todos interligados pelo Mar Mediterrâneo.

No início da civilização, as populações gregas se uniram em comunidades gentílicas, conhecidas como genos. O período arcaico começa com a reunião dos genos em unidades políticas maiores, as chamadas póleis ou cidades-Estado. Nesse tipo de organização não existia um governo único. Cada cidade-Estado tinha suas leis, seu governo, sua economia e sua sociedade própria e independente. O palácio do governo e os templos eram construídos em uma colina fortificada, a acrópole.

Tal organização político-social culminou na longa Guerra do Peloponeso, ocorrida de 431 a 404 a.C. As desavenças internas, a escassez de terras e a necessidade de expansão do comércio determinou a criação de dois grupos rivais: a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, e a Liga de Delos, sob a liderança de Atenas. O conflito marca o início do declínio das cidades-Estado.

Coleção começou com trocas entre USP e Europa
A coleção exposta a partir desta semana, no MAE, é produto de uma troca feita entre a USP e museus italianos na década de 1960. Na época, um grupo de pesquisadores da Universidade contou com o apoio do mecenas Francisco Matarazzo Sobrinho (o Ciccillo, um dos precursores da Bienal de Arte de São Paulo e do Museu de Arte de São Paulo, o Masp) para intermediar a troca de objetos etnográficos das populações indígenas brasileiras por outros datados da Grécia antiga. Com o tempo, mais artefatos foram adicionados à coleção, mas o núcleo inicial veio de museus do sul da Itália e da Sicília, regiões que, na Antiguidade, eram habitadas por colônias gregas e se chamavam Magna Grécia.

A exposição foi idealizada há um ano por uma equipe composta pela professora Elaine Hirata, a museóloga Viviane Wermelinger e três educadores, todos do MAE. Um dos principais objetivos da mostra é informar o público leigo, daí a necessidade dos educadores, que vão trabalhar na mediação entre o especialista e aqueles que buscam esse conhecimento. “Desde que eu propus o tema, a ideia da mostra passou por muitas reformulações, em função da colaboração dessas pessoas”, diz Elaine. “Por exemplo, eu elaboro um texto e passo a eles, que analisam se a imagem está adequada. É um processo em equipe.”

Serviço
A exposição “Pólis: Viver na Cidade Grega” será inaugurada nesta quinta-feira, dia 10 de março, e ficará em cartaz até 27 de janeiro de 2017, no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP (avenida Professor Almeida Prado, 1.466, Cidade Universitária, São Paulo), às segundas, quartas, quintas e sextas-feiras, das 9 às 17 horas, e todo segundo sábado de cada mês, das 10 às 16 horas. Entrada grátis. Mais informações pelo telefone (11) 3091-4905 e na página eletrônica www.nptbr.mae.usp.br.

Maria Beatriz Barros / Jornal da USP
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

27/02/2016

Arqueologia na Amazônia elucida mistério de 500 anos


Estudo aponta que, há mais de mil anos, índios da Amazônia central dependiam principalmente da pesca – e não da caça – para o sustento do grande povoado descrito no século 16 pelo frei Gaspar de Carvajal (foto: fragmento de peixe/Gabriela Prestes Carneiro)

A imagem mais corriqueira que se tem das tribos pré-históricas amazônicas é que seu modo de vida era baseado na caça e na coleta de alimentos, pois na Amazônia central não haveria recursos para sustentar grandes povoamentos.

Essa imagem, e sua explicação, foram construídas ao longo de séculos de colonização da calha do Amazonas, onde jamais se encontraram vestígios dos imensos povoados indígenas descritos no século 16 pelo frei Gaspar de Carvajal.

Como falta de evidência nunca significou evidência de ausência, pesquisas arqueológicas realizadas na última década detectaram os restos do imenso povoamento descrito por Carvajal. Faltava saber como foi que milhares de índios encontravam sustento no local. Não mais.

Um novo estudo arqueológico acaba de demonstrar que, há mais de mil anos, os índios da Amazônia central seriam caçadores esporádicos e, para alimentar milhares de pessoas, eles dependiam principalmente da pesca, assim como ocorre com as populações ribeirinhas atuais. O consumo de tartarugas também era fonte importante de proteína animal.

O trabalho foi publicado no Journal of Archaeological Science. As escavações foram feitas no sítio arqueológico Hatahara, que vem sendo estudado há mais de uma década pelo arqueólogo Eduardo Góes Neves, professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), com apoio da FAPESP.

Hatahara fica na margem esquerda do rio Solimões, em Iranduba (AM), a cerca de 20 quilômetros do encontro das águas dos rios Negro e Solimões, uma das regiões de maior biodiversidade do planeta. O sítio foi ocupado continuamente por mais de mil anos, entre os anos 300 e 1500.

O estudo foi focalizado na chamada fase Paredão (entre os anos 750 e 1230), que leva este nome por causa das características da cerâmica usada pelos índios no período. Nessa fase, Hatahara era um cacicado enorme. Ocupava pelo menos 20 hectares e se estendia por vários quilômetros na margem do rio. Reunia dezenas de aldeias onde viviam milhares de índios. Como faziam para alimentar tanta gente era o que queria descobrir a equipe de arqueólogos.

Durante as escavações, eles coletaram vestígios de milho, inhame e mandioca, espécies que podem ter sido cultivadas em Hatahara, assim como várias espécies de palmeiras. A surpresa veio quando estudaram os quase 10 mil vestígios de animais vertebrados, como fragmentos de ossos de mamíferos e répteis, e esqueletos e espinhas de peixe.

“Fala-se muito na caça na Amazônia como modo preferencial de subsistência dos índios. Quando começamos a escavação, tínhamos a expectativa de achar muitos restos de mamíferos”, disse a zooarqueóloga Gabriela Prestes-Carneiro, primeira autora do artigo e responsável pelo trabalho de análise e catalogação dos restos animais encontrados em Hatahara.

“Para a nossa grande surpresa, mais de 90% eram peixes”, disse Gabriela, pesquisadora da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em Santarém. Em seguida, vieram os restos de quelônios, principalmente de tartaruga-da-amazônia. “Restos de mamíferos não passaram dos 3%.”

Em sua maioria eram pequenos marsupiais como os gambás ou roedores como a capivara, os ratos-de-espinho e a cutia. Também foram achados restos de répteis (jacaré, lagartos e cobras) e de aves.

O cardápio de pescado consumido em Hatahara era muito variado: nada menos que 37 táxons, pertencentes a 16 das 28 famílias de peixes que habitam os rios da região.

As espécies prediletas eram o pirarucu e seu primo, o aruanã. Não por acaso, o pirarucu é uma das maiores espécies de peixe de água doce do mundo, podendo atingir 4,5 metros e pesar 200 kg. Por suas proporções, o pirarucu era uma fonte preferencial de proteína animal para os índios.

O segundo grupo mais consumido eram os bagres (ou peixe-gato ou peixes lisos, como são conhecidos na região), caso do surubim, do pintado, do acari, do bodó e tamoatá. A seguir vinha a família das piranhas, especialmente pacu, tambaqui, traíra e o peixe-cachorro. Por fim, entre as principais espécies mais capturadas, estavam os tucunarés, enguias e arraias, entre muitas outras.

“Além das espécies comerciais na Amazônia central, também encontramos espécies que são atualmente pouco consumidas pela população ribeirinha, como o muçum (ou enguia) e diferentes tipos de bacu, cuiú-cuiú e reco-reco”, disse Gabriela. O consumo de tartarugas ocupava também um lugar importante na dieta indígena.

Gaspar de Carvajal

A diversidade do pescado consumido pelos índios pré-históricos demonstra que eles tinham grande conhecimento dos hábitos daquelas espécies, bem como o domínio de técnicas sofisticadas de pesca.

“Os peixes tinham uma importância muito grande ao longo do ano na subsistência da população de Hatahara”, disse Gabriela. “Várias espécies têm hábitos sazonais e só são pescadas em determinadas épocas do ano e em locais distintos. Os índios sabiam quando pescá-las e sabiam onde encontrá-las: em igarapés, lagos, baixos de praia e o leito dos rios.”

De acordo com Neves, “os achados são importantes porque, pela primeira vez, teremos a publicação de um estudo sistemático sobre restos de fauna em um sítio da Amazônia”.

“O estudo complementa trabalhos anteriores que mostram que a população que ocupou o sítio tinha uma dieta diversificada, baseada no manejo de recursos aquáticos e de plantas domesticadas e não domesticadas. Isso mostra que nas áreas ribeirinhas da Amazônia era possível que populações relativamente numerosas tivessem ocupações bem-sucedidas sem dependência da agricultura”, disse Neves, que coordenou o Projeto Temático “Cronologias regionais, hiatos e descontinuidades na história pré-colonial da Amazônia”.

A identificação dos restos de peixes coletados em Hatahara foi realizada por Gabriela no Museu de História Natural de Paris, que conta com uma das melhores e mais diversas coleções de peixes amazônicos.

Ela pretende criar uma coleção de pesquisa semelhante na UFOPA. Para tanto, está realizando coletas na Amazônia central, no rio Tapajós, no rio Guaporé em Rondônia e também na Bolívia.

Este estudo de Hatahara comprova os escritos do frei Gaspar de Carvajal, que em 1542 navegou pela região na expedição capitaneada pelo conquistador espanhol Francisco de Orellana.

Descendo o Solimões desde o Peru, imediatamente antes de atingir a confluência com o Negro, Carvajal descreveu em seu Descobrimento do rio de Orellana: “El lunes de Pascua de Espíritu Santo por la mañana pasamos a vista y junto a un pueblo muy grande y muy vicioso, y tenía muchos barrios, y en cada barrio un desembarcadero al río, y en cada desembarcadero había muy gran copia de indios, y este pueblo duraba más de dos leguas y media”.

A antiga légua europeia media 6,6 km, logo Carvajal descreveu uma aldeia que ocupava 16 km da margem do rio. Com a chegada dos europeus e de suas epidemias, todas aquelas aldeias foram dizimadas, riscadas do mapa e cobertas pela mata. Por isso mesmo, sua existência foi questionada.

O estudo sistemático do sítio arqueológico de Hatahara não só comprovou a existência da enorme aldeia descrita por Carvajal, como agora, com este trabalho de zooarqueologia, solucionou um mistério de 500 anos. Qual era o segredo por trás da subsistência de milhares de índios? Peixe.

O artigo Subsistence fishery at Hatahara (750–1230 CE), a pre-Columbian central Amazonian village (doi:10.1016/j.jasrep.2015.10.033), de Gabriela Prestes-Carneiro, Eduardo Góes Neves e outros, publicado no Journal of Archaeological Science: Reports, pode ser lido aqui

Fonte: Peter Moon  |  Agência FAPESP 

13/01/2016

Múmia possui as tatuagens mais antigas do mundo

A. DETER-WOLF ET AL/JOURNAL OF ARCHAEOLOGICAL SCIENCE: REPORTS 2016

Dezenas de marcas pontilham o corpo de 5 mil anos de múmia europeia.

Em uma batalha sobre qual dos dois rapazes mumificados possui as mais antigos tatuagens conhecidas do mundo, Ötzi venceu.

Caminhantes encontraram o corpo de 5250 anos nos alpes italianos em 1991 e o batizaram de Ötzi. Com 61 tatuagens agrupadas entre o pulso esquerdo, pernas, costas e costelas, feitas com fricção de carvão vegetal e incisões na pele. A outra múmia tatuada havia sido encontrada na América do Sul e era considerada a mais antiga do mundo. Até que uma nova análise de radiocarbono definiu que o corpo escavado no Chile na década de 80 viveu há 4563 anos atrás, de acordo com o arqueólogo Aaron Deter-Wolf da Tennessee Division of Archaeology de Nashville. 

Os resultados errados colocavam o homem chileno com 6000 a 8000 anos de idade. No entendo, os cientistas concluíram em pesquisa publicada no Journal of Archaeological Science: Reports que Ötzi é em torno de 500 anos mais velho.

Por ScienceNews