Mostrando postagens com marcador Indígenas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Indígenas. Mostrar todas as postagens

08/06/2016

Peças arqueológicas indígenas em exposição no Museu Amazônico


O Museu Amazônico da Universidade Federal do Amazonas realiza nesta quinta-feira, 9, às 19h, a abertura da “Exposição de Projeto Zona Leste”. O material arqueológico a ser exposto terá peças que datam dos séculos Vll a XVI, pertencentes à Filiação Cultural da fase Paredão e Policromia da Amazônia.
As peças foram resgatadas de sítios arqueológicos da área urbana de Manaus (zona Leste) e de outros municípios do Amazonas por pesquisadores da Divisão de Arqueologia do Museu Amazônico. São diversos tipos de peças utilizados por etnias que viveram na área da zona Leste, como também em outros municípios do Amazonas.
Manaus é uma das capitais brasileiras mais ricas em termos de patrimônio arqueológico pré-colonial. Em sua área urbana e no seu entorno, já foram identificadas vários sítios. Na zona Leste, pesquisas arqueológicas sugerem que a região e seu entorno foi densamente ocupada com uma história indígena que remonta milhares de anos.
O maior número de artefatos intactos com as devidas restaurações vem dos sítios da zona Leste de Manaus. É a área de atuação do Projeto Zona Leste, que tem parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN-, com o Ministério Público Federal do Amazonas e Museu Amazônico.
O Museu Amazônico localiza-se na Rua Ramos Ferreira nº 1036, no Centro. Horário de visitação de segunda-feira a sexta-feira das 9h às 12h e das 14 às 17h.

Fonte: UFAM

05/06/2016

Exposição de fotografias 'Vim chorar aqui', na UERJ, retrata infância indígena


Após mais de uma década fotografando o universo das celebridades para as principais revistas do país, festivais de cinema, de moda, réveillon em Copacabana e 10 carnavais na Sapucaí, carioca George Magaraia teve sua vida transformada quando passou a conviver com a comunidade indígena da então Aldeia Marakanã, às vésperas da tentativa de demolição desse espaço para as obras da Copa do Mundo de 2014.
Desde então, seu olhar e sensibilidade abordam a temática indígena em trabalhos já premiados na participação do calendário da “Survival International” de 2016 e em exposições como “No Caminho das Miçangas”, no Museu do Índio; e “Artes Indígenas e Etnodesign: vontade de beleza Karaja”, no Museu Janete Costa de Arte Popular.
Exposição de fotos “Vim chorar aqui”
Autor: George Magaraia
Apresentação: Vitor Tufani
Curadoria: Marisa Flórido
Abertura: Dia 6 de junho, às 19h
Local: Galeria do Hall COART - UERJ
Centro Cultural da UERJ - Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã
Leia mais em Jornal do Brasil
Fonte: Jornal do Brasil

06/05/2016

Unesp inaugura Museu de Arqueologia Regional em Prudente


O Museu de Arqueologia Regional, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), foi inaugurado nesta quinta-feira (5), às 15h, em Presidente Prudente. A solenidade é aberta ao público e aos pesquisadores da área.

De acordo com a Unesp, um dos destaques do museu é a sala de exposição “José Luiz de Morais”, que oferece para a comunidade materiais arqueológicos de grupos indígenas agricultores Guarani (grupo Tupi-Guarani), Kaingang e Kaiapó (Grupo Jê) pré-históricos, representados por cerâmicas, pedras lascadas e pedras polidas, assim como de grupos caçadores-coletores, representados por  pedras lascadas (notadamente pontas de flecha, raspadores e furadores).
Segundo a curadora Neide Barroca Faccio, “esses materiais apresentam contextos de sítios datados de 250 a 1.668 anos Antes do Presente”.

Com prévio agendamento, o museu ainda abre espaço para os visitantes realizarem oficinas como as de argila (confecção de potes), arte rupestre, pintura em cerâmica Guarani e lascamento em pedra. O espaço também oferece oficinas e cursos de atualização para professores.

De acordo com a curadora do museu, a docente Neide Barroca Faccio, do Departamento de Planejamento, Urbanismo e Ambiente, da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT), as visitas monitoradas têm como objetivos tornar conhecidas as etapas do trabalho do arqueólogo no campo e no laboratório, a origem e a história das peças em exposição e, ainda, informar sobre o modo de vida dos índios que confeccionaram os objetos.

“O objetivo é apresentar o museu como um todo: pesquisas de campo, curadoria, pesquisas de laboratório, exposição dos materiais estudados, educação patrimonial e publicações”, afirmou a professora.

Ainda segundo a Unesp, o museu também é formado pelo Laboratório de Arqueologia Guarani e de Estudos da Paisagem. Conforme a curadora, o laboratório tem como foco o trabalho na evidenciação e no registro de sítios arqueológicos no Estado de São Paulo, porém, “é possível fazer curadoria e estudo de materiais líticos e cerâmicos pré-históricos, e estudos do patrimônio histórico (vestígios de edificações, louças, porcelanas, vidros e metais)”, ressaltou.

Além das curadorias e das pesquisas, o laboratório realiza restauro de vasilhas cerâmicas indígenas pré-históricas para apresentá-las à comunidade. Segundo Neide, o estudo de técnicas de restauro de vasilhas arqueológicas tem contribuído para a divulgação da cultura de grupos indígenas cuja importância para a formação da cultura brasileira é reconhecida.

A instituição fica no Núcleo Morumbi da Unesp, localizado na Rua Cyro Bueno, 40, no Jardim Morumbi, em Presidente Prudente.

Fonte: G1
Foto: Divulgação

30/04/2016

Cultura indígena será integrada ao ensino de História em instituição no interior do Amazonas


A professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), Letícia Alves, está desenvolvendo um estudo, com apoio do Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), com o objetivo de integrar os saberes indígenas às metodologias de Ensino dos conteúdos de História nas turmas de ensino Técnico e Tecnológico do Ifam de São Gabriel da Cachoeira.

De acordo com a professora, a integração irá permitir uma produção conjunta do conhecimento, promovendo a interdisciplinaridade enquanto prática de ensino.

“Viabilizar um espaço de interlocução entre alunos e professores dará a chance de efetivar os saberes indígenas no ensino de História, baseado em uma metodologia integrada para o Alto Rio Negro constituindo assim, um ensino e aprendizagem que forme verdadeiramente cidadãos capazes de “restituir” a dignidade da condição humana”, afirmou Letícia.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), São Gabriel da Cachoeira é o município amazonense com a maior parte dos habitantes de etnias indígenas e o município brasileiro com a maior concentração de diferentes etnias, como, por exemplo, os Arapaço, Baniwa, Barasana, Baré, Desana, Hupda, Karapanã, Kubeo, Kuripako, Makuna, Miriti-tapuya, Nadob, Pira-tapuya, Siriano, Tariano, Tukano, Tuyuka, Wanana, Werekena e Yanomami.

O projeto foi dividido em dez fases, dentre elas, foi realizada uma entrevista com os professores e alunos do Ifam do município para verificar o conteúdo referente ao conhecimento de saberes indígenas. Atualmente, Letícia está na fase de execução de oficinas sobre o Ensino de História com professores indígenas.

Segundo Alves, o diferencial do estudo está no trabalho que vem sendo realizado com 22 povos indígenas que vivem na região. “De acordo com o levantamento feito até o momento, posso salientar que não existem projetos de pesquisa que trabalhem o ensino de História articulado com os saberes indígenas de 22 etnias distintas culturalmente, etnicamente e linguisticamente, como o que estamos desenvolvendo agora”, disse.

O estudo visa contribuir com outras instituições fora do Amazonas, dada sua especificidade, pois irá inserir um ensino mais próximo à realidade do aluno indígena, ajudando na melhoria da compreensão, interpretação e contextualização dos conteúdos desenvolvidos em todo o ano letivo.

Para a pesquisadora, o estudo possibilitará, ainda, que os estudantes vejam o ensino de História a partir da perspectiva de sua cultura, como forma de subsidiar projetos de sustentabilidade social, cultural e ambiental das comunidades indígenas.

“A proposta da pesquisa está centrada na construção de uma metodologia para o ensino de História que articule os saberes indígenas com os conteúdos de História. Portanto, o nosso objetivo primordial é subsidiar a formação de professores para trabalhar com essa realidade pluriétnica, que demanda novas práticas pedagógicas a respeito dessas identidades”, disse Letícia Alves.

Fonte:Ada Lima / Agência Fapeam

Foto: Seduc-AM

03/04/2016

Yanomamis são contaminados por mercúrio na Amazônia


Viver em um território que tenha em seu subsolo grandes reservas de ouro pode parecer uma benção e um sinônimo de riqueza. Infelizmente, para os Yanomami, esta situação tem sido a sua maior maldição. Um estudo recente conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), mostra que a contínua invasão ilegal de garimpeiros em seu território tem trazido graves consequências: algumas aldeias chegam a ter 92% das pessoas examinadas contaminadas por mercúrio.

São muitos os garimpeiros que trabalham ilegalmente em nossos rios e além do desastre ambiental e social que causam, nós desconfiamos que nosso povo está sendo envenenado com o mercúrio utilizado pelos garimpeiros (Davi Kopenawa Yanomami, março de 2013).

Atendendo ao pedido da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e da Associação do Povo Ye’kwana do Brasil (Apyb), uma equipe de pesquisa visitou 19 aldeias, em novembro de 2014. Foram coletadas 239 amostras de cabelo, priorizando os grupos mais vulneráveis à contaminação: crianças, mulheres em idade reprodutiva e adultos com algum histórico de contato direto com a atividade garimpeira. Também foram coletadas 35 amostras de peixes que são parte fundamental da dieta alimentar destes índios. O estudo foi realizado nas regiões de Papiú e Waikás, onde residem as etnias Yanomami e Ye’kwana.

O caso mais alarmante foi o da comunidade Yanomami de Aracaçá, na região de Waikás, onde 92% do total das amostras apresentaram alto índice de contaminação. Esta comunidade, entre todas as pesquisadas, é a que tem o garimpo mais próximo. Já na região do Papiú, onde foram registrados os menores índices de contaminação — 6,7% das amostras analisadas — a presença garimpeira é menos acentuada.

Garimpo na Terra Indígena Yanomami

O garimpo já deixou marcas profundas no povo e no território Yanomami. Entre 1986 e 1990, estima-se que 20% da população (1.800 pessoas) morreu em função de doenças e violências causadas por 45 mil garimpeiros que invadiram suas terras.

A invasão e a tensão crescente do garimpo culminaram, nos anos de 1990, em um episódio de grande repercussão mundial por sua barbárie. Em julho de 1993, garimpeiros invadiram uma aldeia Yanomami e assassinaram a tiros e golpes de facão 16 indígenas, entre eles idosos, mulheres e crianças. Conhecido como o Massacre de Haximu, foi o primeiro caso julgado pela Justiça brasileira no qual os réus foram condenados por genocídio.

Assista abaixo ao vídeo “Davi contra Golias”, produzido pelo Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Cedi), no qual Davi Kopenawa fala do Massacre do Haximu.

O garimpo continua sendo uma ameaça à vida dos Yanomami e Ye’kwana. Desde 2014, a invasão de seus territórios por garimpeiros cresce assustadoramente. Hoje, estima-se que cinco mil garimpeiros atuam ilegalmente na Terra Indígena Yanomami. As diversas denúncias feitas pelos índios não têm resultado em ações efetivas dos órgãos governamentais responsáveis. Se nada for feito de concreto, um novo Haximu pode estar a caminho.

Para acabar com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami é preciso que se descubra os seus financiadores, que são os que realmente lucram e sustentam esta atividade. É preciso descobrir a rota do ouro, ou seja, por onde passa e qual seu destino final.

Neste sentido, a Polícia Federal realizou duas operações que levantaram apenas a beira do manto que encobre esta atividade ilegal: a operação Xawara, em 2012, e a operação Warari Koxi, em 2015. Além de descobrirem alguns comerciantes e donos de avião em Roraima, também descobriram que o ouro chega a uma Distribuidora de Valores e Títulos Imobiliários (DTVM), na Avenida Paulista, na cidade de São Paulo. Fica o alerta: o ouro comercializado nos grandes centros financeiros do Brasil pode carregar com ele o sofrimento do povo Yanomami.

Aspectos éticos da pesquisa

As coletas feitas em novembro de 2014 foram precedidas por consultas aos indígenas, que autorizaram a retirada de amostras de seus cabelos, com a condição de que após a análise elas seriam devolvidas. Este pedido se deve à obrigação de que, para os Yanomami, todos os pertences e partes corporais devem ser cremados após a morte. É também uma precaução adotada depois que tiveram conhecimento do caso de roubo de seu sangue por pesquisadores norte-americanos na década de 1970.

As coletas feitas em novembro de 2014 foram precedidas por consultas aos indígenas, que autorizaram a retirada de amostras de seus cabelos, com a condição de que após a análise elas seriam devolvidas. Este pedido se deve à obrigação de que, para os Yanomami, todos os pertences e partes corporais devem ser cremados após a morte. É também uma precaução adotada depois que tiveram conhecimento do caso de roubo de seu sangue por pesquisadores norte-americanos na década de 1970.

Tanto as consultas para autorização quanto a apresentação dos resultados foram feitas em língua indígena, com o auxílio de intérpretes e material explicativo bilíngue, visando garantir a compreensão por parte de todos os envolvidos na pesquisa.

Entrega para o poder público

Uma comitiva formada por lideranças Yanomami e Ye'kwana, e representantes da Fiocruz e do ISA, foram à Brasília, em março de 2016, para divulgar o diagnóstico junto aos órgãos responsáveis. A comitiva entregou cópias às Presidências da Funai e do Ibama, ao coordenador da Secretaria Especial de Saúde Indígena, ao Ministério Público Federal e à Relatora Especial sobre Direitos Indígenas da ONU, que estava em visita ao Brasil. As lideranças indígenas também exigiram a retirada imediata dos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami e um atendimento especial em saúde para as pessoas que estão contaminadas.

Fonte: Portal Amazônia
Foto: Reprodução/Marcos Wesley/ISA

24/03/2016

Universidade Federal de Roraima tem primeiro reitor indígena do Brasil


Criada em 1989, a Universidade Federal de Roraima (UFRR) tem o primeiro reitor roraimense e descende de indígena do país. Doutor em Agronomia, Jefferson Fernandes do Nascimento, 51 anos, estará à frente da instituição nos próximos quatro anos (2016-2020) com o apoio do vice-reitor Américo Alves de Lyra Júnior, professor doutor do curso de Relações Internacionais da UFRR.
Segundo o novo reitor, empossado nesta quarta-feira, 10, pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os desafios são enormes, mas a motivação é maior. “Conhecer a região e ter vivido todo o processo de ocupação e desenvolvimento regional nos dá condições para contribuir de forma mais efetiva”, afirma o reitor.
“Queremos, com muito diálogo e com uma gestão compartilhada, trabalhar para ampliar o ensino para os povos indígenas. Como Instituição, temos a função social de inclui-los no processo de educação superior, inclusive em pós-graduação”, acrescentou.
Nesse sentido, Aloisio Mercadante defendeu a criação de um mestrado para gestores em terras indígenas. De acordo com o Ministro, as universidades precisam ajudar na economia regional, criando parques tecnológicos, polos de inovação e parcerias com empresas para gerar valor agregado, principalmente na Amazônia.
“Precisamos formar esses jovens indígenas que vão sair das universidades e que precisam dar um passo em direção ao mestrado. Voltar para suas regiões e ajudar no desenvolvimento da agricultura orgânica ou na recuperação dos valores tradicionais é fundamental para gerar mais valor, mais emprego, mais renda e mais qualidade de vida”, concluiu Mercadante.
Atualmente, a universidade oferece 29 cursos de bacharelado, 20 licenciaturas e um curso tecnológico em três diferentes campi em Boa Vista, capital do Estado.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social MEC

Pesquisas podem ajudar a salvar línguas indígenas da extinção

No Brasil são faladas, pelo menos, 181 línguas indígenas. Mas esse número já foi bem maior – estima-se que, antes da chegada dos europeus, mais de 1.500 línguas fossem faladas no território que viria a se tornar o país, sendo gradativamente extintas ao longo de cinco séculos. Para compartilhar estratégias de pesquisa que ampliem o conhecimento sobre esse patrimônio linguístico e cultural e ajudem a preservá-lo, mais de 100 cientistas de 10 países estão reunidos desde 21 de março até 2 de abril, no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada Putting Fieldwork on Indigenous Languages to New Uses, realizada com o apoio da FAPESP.
A língua materna de Mutua Mehinaku, descendente do povo Kuikuro, é uma das que correm risco de desaparecer. Nascido na região do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso, Mehinaku tem mestrado em Antropologia Social no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estuda o pluralismo linguístico no Alto Xingu. De acordo com ele, 700 índios falam kuikuro, sendo que os critérios internacionais determinam que uma língua corre risco de extinção se falada por menos de mil pessoas.
“Se comparada a outras línguas indígenas, faladas por algumas dezenas de pessoas e com poucos estudos a respeito, a nossa está relativamente segura. Mas, quando se trata de um patrimônio tão importante e sensível quanto a sua cultura, é preciso se cercar de cuidados para que ele não siga ameaçado. Por isso as pesquisas na área são tão importantes”, disse durante a ESPCA.
Para Angel Humberto Corbera Mori, professor do IEL, pesquisador de línguas arawak, faladas no Parque Xingu, e editor do periódico Línguas Indígenas Americanas (Liames), pode-se dizer que o risco de extinção se estende a praticamente todas as outras línguas indígenas faladas no Brasil.
“De 181 línguas, pelo menos 115 são faladas por menos de mil pessoas. Algumas poucas, como tikuna, língua nativa falada por um povo que habita territórios do Brasil, do Peru e da Colômbia, e terena, falada na região do Mato Grosso do Sul, são compartilhadas por populações entre 20 mil e 30 mil pessoas, mas a grande maioria tem apenas algumas dezenas de falantes. Povos indígenas do Nordeste, como os potiguares e cariris, por exemplo, não falam mais sua língua e, por esse motivo, mesmo ainda praticando seus costumes ancestrais, não são vistos pela sociedade como sendo índios”, contou.
De acordo com Corbera Mori, a cada duas semanas pelo menos uma língua desaparece no mundo. No Brasil, recentemente, morreu a última falante da língua indígena xipaia, em Altamira, no Pará, e apenas dois anciões falam guató, vivendo em lugares diferentes e que não se comunicam entre si devido a distância. Para o pesquisador, a extinção dessas línguas representa também o desaparecimento de diversos conhecimentos acumulados ao longo de séculos.
“Não é uma riqueza material, como o ouro ou o diamante, mas, quanto mais diversidade cultural um país possui, mais rico ele é em conhecimento. Os índios mais velhos dominam toda uma diversidade de nomes de pássaros, cobras, plantas que são usadas na medicina tradicional, entre outras informações que seriam de grande utilidade para a compreensão e a conservação da natureza. A perda desse conhecimento da fauna e da flora é também uma perda científica”, destacou.
Nesse sentido, ressaltou Maria Filomena Spatti Sandalo, também professora do IEL e coordenadora do evento, “compartilhar metodologias e experiências de pesquisa bem-sucedidas com línguas nativas de diferentes regiões do planeta pode contribuir para avançar no conhecimento sobre aquelas faladas no Brasil e na América do Sul”.
Neologismos contra a “caraibização”
Se no período da colonização as línguas indígenas desapareciam junto com seus povos, dizimados por doenças trazidas pelos colonizadores e pelo extermínio direto, hoje o maior risco que enfrentam é o que o povo Kuikuro chama de katsagaihakijü: a “caraibização” ou “transformação em caraíba”, em referência ao termo indígena usado para designar o colonizador europeu.
“Isso se dá pelo contato direto com o idioma português, que ocorre não só por uma exposição natural, mas pela falta de proteção dos territórios indígenas, pela invasão por madeireiros, fazendeiros, narcotraficantes e até mesmo na escola, já que os jovens têm mais interesse em aprender o português do que a língua dos seus pais e avós”, explica Mori.
De acordo com Mehinaku, foi essa influência sobre sua língua nativa que o motivou a se aprofundar no estudo do kuikuro.
“Inicialmente eu observava o trabalho de linguistas na minha tribo, dedicados ao estudo desse processo, mas eles não estarão ali para sempre. Então, passei a me aprofundar na língua que falamos para entender como o surgimento dessas palavras estrangeiras poderia comprometê-la. É diferente um idioma amplamente falado sofrer influência de outro. Quando somente algumas centenas falam essa língua, o risco de essa influência contribuir para sua extinção é grande”, avalia.
O pesquisador se dedicou, então, a o que seu povo chama de tetsualü – em kuikuro, qualquer mistura. No mestrado, o termo foi utilizado fazendo referência aos processos de transformação da língua e das histórias individuais e coletivas das tribos.
A “mistura” alto-xinguana foi investigada por Mehinaku seguindo dois eixos: um do amálgama, a partir do estudo de casamentos interétnicos e do multilinguismo presente nos cantos rituais, e outro da diferenciação, sobre como surgiram as línguas dos diversos povos do mundo e emergiram as diferenças dialetais que distinguem as etnias Karib do Alto Xingu – hoje, por sua vez, em vias de se misturar.
Segundo ele, o princípio do tetsualü ganhou novo sentido e outra complexidade com a entrada do português nas línguas e na vida das aldeias do Alto Xingu, levando ao surgimento de neologismos em kuikuro, como o uso da palavra pagaka para se referir a “barraca”, pasia para “bacia” e pisa para “pinça”.
“Esses neologismos sofreram influência do português, mas são kuikuro. É a língua se reinventando e permanecendo viva”, destacou.
Os dados apresentados na dissertação de mestrado de Mehinaku e que serviram de base empírica para o trabalho vieram, em parte, dos conhecimentos nativos do autor, que pertence a duas das etnias do Alto Xingu: Kuikuro por parte da mãe e Mehinaku do pai, povo que fala a língua arawak. Também foram feitas entrevistas e coletas de depoimentos, discursos e narrativas na aldeia kuikuro de Ipatse.
Filogenética turbinada
Em outra frente de pesquisa, cientistas trabalham no desvendamento do passado das línguas indígenas para entender como elas se formaram e, como consequência, ajudar no desenvolvimento de estratégias para sua preservação.
Giuseppe Longobardi, do Departamento de Linguística da Universidade de York, na Inglaterra, apresentou no IEL o novo método por ele desenvolvido para comparar, com a ajuda de softwares, sistemas sintáticos de línguas diferentes, estabelecendo eventuais parentescos entre elas: o Parametric Comparison Method (PCM).
“O método histórico-comparativo tradicional, utilizado desde o século 19, permitiu à pesquisa na Europa retroceder até a língua protoindo-europeia, o ancestral comum das línguas indo-europeias. Nas Américas, onde as línguas indígenas não possuem registros escritos significativos e prevalece a tradição oral, ainda não foi possível ir tão longe, havendo apenas noções das famílias linguísticas, mas não muito claras quanto aos parentescos entre elas”, contou.
A filogenética, metodologia usada para a análise evolutiva das línguas, já contava com o auxílio de softwares que relacionam palavras para determinar parentescos linguísticos, mas o recurso é limitado por conta do que os pesquisadores chamam dos empréstimos – como a palavra “deletar”, adaptada do inglês para o português. Isso pode fazer com que famílias sem conexão sejam vistas como parentes sem que tenham, de fato, essa relação.
O método PCM realiza comparações entre as gramáticas das línguas, mais estáveis que as palavras isoladas. A gramática de uma língua trata de sua morfologia, o estudo da estrutura, da formação e da classificação das palavras, e da sintaxe, a disposição delas na frase e a das frases no discurso, assim como as relações lógicas entre elas.
“O pressuposto do método é que os parâmetros sintáticos são mais adequados do que outros para fins de comparação linguística e reconstrução histórica, pois são capazes de fornecer correspondências inequívocas e medidas objetivas. Experiências com 26 variedades indo-europeias contemporâneas comprovaram que o PCM é capaz de identificar corretamente as relações genealógicas de línguas modernas”, afirmou.
O método também foi experimentado no IEL com uma língua guaikuru e outra karib, ambas de tradição oral, comprovando-se eficiente mesmo na ausência de registros escritos. Para compensar essa falta, os pesquisadores desenvolveram um questionário de gramática que auxilia na coleta dos dados gramaticais diretamente com os índios, muitos deles professores das línguas em suas tribos.
A aplicação do formulário vem sendo demonstrada em sessões de hands on na programação da ESPCA Putting Fieldwork on Indigenous Languages to New Uses, que conta também com cursos sobre línguas e culturas do Brasil, anotação sintática e corpora orais digitais, métodos experimentais e computacionais em Fonologia e Morfologia e experimentações semântica, entre outros.
Mais informações em sites.google.com/site/pfilnu.
Foto: Mutua Mehinaku no Alto Xingu/Acervo pessoal
Fonte: Diego Freire | Agência FAPESP

05/03/2016

Alunos Tukano escrevem dissertação de mestrado da Ufam na língua da etnia



Os indígenas Dagoberto Azevedo, 37 anos, e Gabriel Maia, 45 anos, falam língua Tukano, originária dos territórios margeados pelos rios Uaupés, Tiquié e Papuri, afluentes do Alto Rio Negro, município de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Estado do Amazonas, na fronteira com a Colômbia. É nesta língua, e não no português, que eles vão escrever suas dissertações de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), uma iniciativa considerada um marco no sistema educacional do ensino superior do país.

“Estamos fazendo algo novo. Não queremos ser apenas informantes (de outros pesquisadores). Também queremos escrever, mas na nossa língua”, diz Dagoberto Azevedo à Amazônia Real.

A facilidade de se expressar em sua própria língua nativa e a necessidade de corrigir distorções de conceitos e palavras são algumas das razões que levaram os dois estudantes de mestrado a optarem em escrever suas dissertações em Tukano.

“Muitas palavras possuem conceitos distorcidos em pesquisas já feitas. Foram interpretadas no equívoco”, diz Gabriel Maia.

Ele cita como exemplo Miriãpora, uma palavra Tukano que se refere aos instrumentos musicais sagrados usados em festas tradicionais, como o Dabucuri, e em rituais de iniciação. No imaginário ocidental, a mesma palavra foi chamada de “jurupari”, que não existe na língua Tukano. Ela é originária do Nheengatu, uma língua geral criada por missionários a partir de termos tupi-guarani. Na tradução elaborada pelos missionários, “jurupari” seria o mesmo que “demônio”, o ente bíblico maligno. “Ou seja, essa palavra e outras estão sendo explicadas melhor no texto da minha dissertação”, diz Maia.

Dagoberto Azevedo (cujo nome em Tukano é Suegu, pessoa que canta e dança nas festas e rituais) nasceu na comunidade Pirarara, no rio Tiquié. Fez todo seu ensino fundamental e médio na comunidade. Graduou-se em em Filosofia.

Nascido na comunidade Pato Cachoeira, no rio Papuri, Distrito de Iauaretê, Gabriel Maia tem o nome indígena de Akʉto Ye’pa-mahsʉ (sem uma tradução literal). Ele estudou em escolas das comunidades indígenas do Alto Rio Negro. Foi soldado do Exército e seminarista salesiano. Também estudou Pedagogia Intercultural no ensino superior. Ingressou no mestrado em 2014.

No último dia 16 de fevereiro, a pró-reitoria de pós-graduação da Ufam deu parecer favorável ao ofício de Dagoberto Azevedo e Gabriel Maia para que eles possam escrever suas dissertações integralmente na língua Tukano. Seus respectivos orientadores, Carlos Machado Dias e Gilton Mendes, já haviam concordado. No último dia 23, o colegiado do PPGAS aprovou o pedido.

“A língua Tukano é mais livre, mais libertária e mais coerente para eles poderem expressar suas ideias. Eles deixam uma língua estrangeira e passam a escrever na sua língua”, afirmou Gilton Mendes, professor de mestrado em Antropologia Social e orientador de Maia, em entrevista à Amazônia Real.

O ofício foi encaminhado ao pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Gilson Monteiro, no dia 09 de dezembro de 2015. Entre as considerações, Dagoberto Azevedo e Gabriel Maia afirmam que possuem como primeira língua o Tukano e se expressam melhor, por meio dela, ideias e argumentos, tanto na forma falada como escrita. Eles dizem no ofício:

“Vimos solicitar dessa pró-reitoria a garantia dos nossos direitos, como membros de uma sociedade indígena, de elaborar nossas dissertações acadêmicas, para conclusão do Mestrado, na língua materna – e, se for de interesse do Programa ou da Universidade, que seja feita a tradução dessa produção acadêmica para a língua Portuguesa.  Uma vez que não somos apenas indivíduos, mas pessoas coletivas que ocupam um lugar na estrutura social do sistema de descendência Tukano, tal iniciativa garante também a nossos grupos étnicos o direito de ler essa produção sobre nosso conhecimento em sua própria língua”.

A aprovação do uso da língua nativa na Pós-Graduação em Antropologia Social da Ufam ocorre quase dois meses depois que a presidente Dilma Rousseff vetou o Projeto de Lei de autoria do senador Cristovam Buarque (então no PDT-DF, agora no PPS) que permitiria que línguas indígenas fossem usadas nos ensinos médio, profissionalizante e superior, e não apenas no ensino fundamental. O projeto havia sido aprovado no Senado no final de 2015, mas a presidente vetou no dia 29 de dezembro.

Antes do parecer favorável, os dois já vinham escrevendo o esboço do que virá a ser suas futuras dissertações em português. Com a aprovação no Colegiado do PPGAS, o português será uma língua coadjuvante.

Dagoberto Azevedo e Gabriel Maia vão prestar a qualificação (etapa que antecede a defesa) em março. Os textos serão apresentados na língua Tukano  em português.

Por que escrever em sua própria língua? Para Dagoberto e Gabriel, os verdadeiros detentores do conhecimento indígena (conhecidos como kumuã), além de outros parentes, precisam e têm direito de saber o que eles vão pesquisar e escrever. Eles também querem que as dissertações sejam adotadas nas escolas indígenas.

Saiba mais em Amazônia Real 

Foto: Alberto César Araújo/AmReal
Fonte: Amazônia Real

01/03/2016

Mais de 100 indígenas fazem cursos profissionalizantes no interior do AC


O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), no Acre, atende 140 indígenas de 18 comunidades do Acre. Os cursos oferecidos são de artesão indígena, agricultor agroflorestal, agente de desenvolvimento cooperativista, agricultor familiar, orgânico e piscicultura.
O indígena Jackson Marubo, de 28 anos, faz o curso de agente de desenvolvimento cooperativista em Cruzeiro do Sul, no interior do Acre, e conta que já fez as disciplinas de informática, cooperativismo e empreendedorismo.

"Estou gostando do curso. É bom que a gente aprende mais algumas informações. Moro na cidade há um ano e pretendo concluir o ensino médio para depois levar os conhecimentos para minha comunidade, que fica no Rio Ituí, no Amazonas", diz Jackson.

De acordo com a coordenadora geral do Pronatec, Alcilene Oliveira Alves, o maior desafio é trabalhar os conteúdos propostos nas disciplinas respeitando os aspectos culturais. "Manter um diálogo com os povos indígenas, traduzindo o conhecimento de uma forma não autoritária. É uma educação intercultural", afirma.

Ao todo, três regionais em todo o estado recebem os cursos ofertados pelo Instituto Federal do Acre (Ifac). Na regional do Vale do Jurá, são 70 indígenas em formação, no Vale do Purus são 20 em uma turma e na regional Tarauacá-Envira, 50 índios estão fazendo os cursos.

Os cursos são ministrados por professores também indígenas ou que possuem um aval com termo de orientação dado Fundação Nacional do Índio (Funai). As aulas são ministradas em português, mas quando necessário, o professor traduz o conteúdo para a linguagem da aldeia.

As aulas são presenciais e ocorrem nas aldeias, sendo apenas dois cursos ministrados na cidade, porém, são para indígenas que moram na área urbana. São cursos de 160 a 200 horas, trabalhados de um a dois meses e meio. Ao final, os índios ganham certificado.

Fonte: Iryá Rodrigues do G1 AC
Foto: Divulgação/Ifac

24/02/2016

Indígenas Baniwa vão estudar com livros escritos na língua materna


Estudantes indígenas da etnia Baniwa vão estudar com livros didáticos escritos na língua materna a partir deste ano. O líder indígena, André Baniwa diz que o material vai servir de apoio para alfabetização nas principais escolas do município amazonense de São Gabriel da Cachoeira, onde vivem 23 povos indígenas.

O material foi produzido por professores Baniwa, com suporte da Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo (SP). A tiragem inicial foi de 1.000 exemplares. André Baniwa espera que a publicação das cartilhas seja um incentivo para a criação de quatro escolas na região tipicamente indígenas.

O projeto de criação das escolas indígenas está protocolado na Casa Civil do Amazonas desde 2013. Segundo os índios, o governo alega falta de dinheiro para as obras. Por nota a Secretaria de Educação do Amazonas informou que executou recentes obras de infraestrutura em São Gabriel da Cachoeira, distante 853 quilômetros da capital Manaus. 

Fonte: EBC/Agência Fapeam