O Projeto Ilhas do Rio, iniciado em 2011 para proteção do conjunto das Ilhas Cagarras, no litoral do Rio de Janeiro, vai entrar em sua terceira fase este ano, aprofundando pesquisas marinhas de peixes recifais e estudos de cetáceos, como baleias e golfinhos, de aves e da flora, além de atividades de mergulho. A meta é contribuir para o plano de manejo elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio).
Implementado pela organização não-governamental (ONG) Instituto Mar Adentro Promoção e Gestão do Conhecimento de Ecossistemas Aquáticos, com patrocínio da Petrobras, o programa ampliou sua abrangência nas áreas que compõem o Monumento Natural das Ilhas Cagarras, unidade de conservação local, para quatro conjuntos de ilhas do litoral do Rio, incluindo a Ilha Rasa e os arquipélagos de Maricás e Tijucas.
“Assim como ocorreu nas Cagarras, o objetivo é fazer um levantamento científico do que havia ali, do que ocorria e o seu impacto”, disse à Agência Brasil o supervisor de Pesquisa Científica do projeto, Carlos Rangel.
Flora e fauna
Na primeira e segunda fases, os pesquisadores fizeram o levantamento da biodiversidade marinha e terrestre da flora e da fauna e monitoramento das atividades, trabalhando em paralelo com ações de mobilização social e educação ambiental. Foi descoberto um sítio arqueológico tupi-guarani situado no cume da Ilha Redonda, datado por especialista do Museu Nacional no período pré-colonial brasileiro, compreendido entre 1435 e 1495.
“Você ter um sítio arqueológico em uma ilha que era pouco estudada, dentro de uma unidade de conservação, já é um dado bastante relevante”, avaliou Rangel. Foram mapeadas quase 200 espécies de plantas e 600 animais.
Dentre as espécies da fauna levantadas pelos pesquisadores, se destaca uma perereca de bromélia (Scinax gr.perpusillus) que, embora não tenha sido ainda identificada, sinaliza ser uma nova espécie para a ciência, porque vive dentro da bromélia e tem a característica de ser exclusiva de ilhas costeiras, como as existentes na costa de São Paulo, disse Rangel.
“Provavelmente, é uma espécie nova para a ciência porque ela se especializa dentro de uma ilha e não se locomove. Fica nessa ilha, dentro da bromélia a vida toda”. Outra espécie coletada na Ilha Redonda foi uma barata sem asas (Hormetica sp.) que abre a possibilidade de ser outra nova espécie para estudo científico.
“É uma adaptação evolutiva”, salientou o biólogo. “É interessante porque a gente não só identifica novas espécies, mas também novos registros, por exemplo, espécies que ocorriam até o sul da Bahia e ocorrem também aqui, no sudeste do Brasil. É interessante porque é uma ampliação da área de ocorrência dessas espécies”, observou. “Só com conhecimento você consegue essas informações”.
Educação ambiental
Todas os dados coletados no campo de pesquisas são utilizados para a educação ambiental por meio de atividades que o projeto organiza, como exposições itinerantes e interativas, palestras em escolas e universidades e no centro de visitantes da Colônia de Pescadores de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, onde se divulga o projeto, contribuindo para a proteção dos ecossistemas.
A ONG Instituto Mar Adentro promove também um mutirão de limpeza nas ilhas, que conta com a participação de voluntários e esportistas. “As atividades são boas para que os dados das pesquisas não fiquem só com os pesquisadores e sejam repassados para o público”. A terceira fase, que deverá começar ainda neste semestre, terá como foco as Ilhas Cagarras e o arquipélago de Maricás. Os pesquisadores promoverão também a retirada de espécies exóticas. A iniciativa permite ao programa recolonizar as ilhas com espécies nativas.
Fonte: Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil
Foto: Divulgação