Com um belo catálogo ilustrado por jovens artistas de uma das comunidades mais pobres do Brasil, Santa Luzia do Itanhy, em Sergipe, o Projeto Arte Naturalista - Ciclo de Vida dos Manguezais encerrou seu primeiro ciclo de construção de uma tecnologia social voltada à promoção do desenvolvimento de jovens e adolescentes de comunidades de extrema pobreza através da arte e mais especificamente da ilustração (aquarela, nanquim e grafite).
O povoado de Santa Luzia do Itanhy é um dos mais antigos de Sergipe e sua fundação coincide com as primeiras tentativas de colonização do solo sergipano pelos portugueses. Localizada na região sul de Sergipe, conta com pouco mais de 13 mil habitantes, distribuídos entre comunidades quilombolas e vilas de pescadores.
A impressão de dois mil exemplares da publicação foi possível graças ao apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico (CNPq) ao Instituto de Pesquisa em Tecnologia e Inovação (IPTI), que concebeu e desenvolve o projeto.
O catálogo científico-cultural ilustrado apresenta a biodiversidade do mangue, com ilustração de jovens carentes da região, após passarem por treinamento na área de pintura e desenho.
O coordenador do IPTI, Saulo Barreto, explicou que o projeto teve por objetivo associar o mundo contemporâneo às técnicas artesanais posicionando os ilustradores sergipanos de uma maneira inovadora não apenas perante o Brasil, mas também perante o mundo. "Essa é a maneira que encontramos para preservar o patrimônio material do artista brasileiro e sergipano. Essa é a idéia do projeto, desenvolver pessoas que vejam que nascer em Santa Luzia do Itanhy é uma vantagem e não um problema", explicou.
Saulo conta, ainda, que objetivo do Arte Naturalista é desenvolver o ensino de arte, estimular a geração de renda da região e a educação ambiental. O projeto trouxe um novo significado do mangue para a população local, ao transformá-lo em arte, e proporcionou novas perspectivas de vida para os jovens.
"O Arte Naturalista foca na identificação de talentos locais em desenho, que recebem formação em ilustração, utilizando materiais que sejam de fácil acesso aos moradores locais, tais como aquarela, nanquim, grafite", pontuou. O projeto iniciou com 97 candidatos dos quais 20 foram selecionados. Desses, 10 concluíram o curso, sendo que 8 produziram ilustrações consideradas de alta qualidade (24 trabalhos no total), as quais compuseram o acervo para a exposição no Museu da Gente Sergipana, inaugurada em 4 de abril de 2013, com a presença dos jovens ilustradores e seus familiares.
Atualmente, os ilustradores atuam como instrutores de arte nas escolas dos seus povoados.
O projeto foi dividido em três linhas distintas que objetivam sua continuidade. A primeira é uma re-aplicação da tecnologia social, onde os ilustradores formados na primeira etapa atuam como instrutores de arte nas escolas de seus respectivos povoados; a segunda é uma elaboração de produtos associados à estética dos manguezais, a proposta é elaborar produtos como, camisetas, roupa de cama entre outros como forma de gerar renda aos ilustradores; e a terceira o aperfeiçoamento das técnicas e elaborações de catálogos científicos/educacionais ilustrados.
O IPTI
O IPTI é uma instituição privada sem fins lucrativos, fundada em 2003, com o propósito de desenvolver inovações tecnológicas de interesse social. Em 2009 mudou sua sede para o povoado de Santa Luzia do Itanhy com o propósito de cumprir sua missão. Desde sua fundação, o IPTI tem atuado de forma participativa, envolvendo representantes das comunidades locais nos diversos projetos de Tecnologias Sociais que desenvolve.
Saulo Barreto enfatiza que o papel do instituto é servir de ponte entre ciência, tecnologia e sociedade. "O IPTI trabalha com a ideia de tecnologia social porque acreditamos que ciência e tecnologia são fundamentais para promover a melhoria da qualidade de vida e para conseguir isso é fundamental que busquemos nos aproximar das comunidades. A academia é só parte da solução dos problemas. O IPTI se especializou em fazer essa interface de ciência, tecnologia e sociedade", concluiu.
Coordenação de Comunicação do CNPq