Um araçari que estava com o bico quebrado recebeu um implante impresso em 3D, em Sinop, a 503 km Cuiabá. A tecnologia de produção da prótese foi desenvolvida por um grupo de seis pessoas, de diversas regiões do Brasil, que se mobilizaram para ajudar o pássaro. O animal foi abandonado, em setembro do ano passado, já sem parte do bico, dentro de uma caixa no quartel do Corpo de Bombeiros daquela cidade. A ave agora precisa de um cuidador, definitivo. A cirurgia foi feita no dia 16 deste mês.
Assim que ficou pronto, o pássaro estranhou o implante e tentou retirá-lo com as garras, mas já se adaptou. Apesar disso não poderá voltar ao habitat, sob o risco da prótese quebrar ou descolar. Segundo a zootecnista Paula Andrade Moreira, o araçari é uma ave regional, mede aproximadamente 20 centímetros e utiliza o bico para quebrar alimentos duros. Desde setembro vinha comendo apenas frutas macias, como banana e mamão.
“Ele [o pássaro] precisa de um cuidador. De preferência um ambiente com outros animais e de alguém que saiba cuidar dele”, disse.
A equipe que desenvolveu a tecnologia é motivada pelo amor aos bichos e à ciência, e se autodenominam ‘Vingadores’. Eles usam a novidade para salvar a vida de animais mutilados.
Segundo o designer Cícero Moraes, a cirurgia durou quase 3 horas e contou com a participação de profissionais locais, que ainda não tinham intimidade entre si. O pássaro está se recuperando no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) de Sinop.
Morte da arara
Esse foi primeiro implante 3D do tipo em Mato Grosso e o primeiro realizado na espécie, no mundo, conforme o grupo. Além do araçari, uma arara, chamada Gigi, passou pelo mesmo procedimento, mas, por motivos ainda desconhecidos, morreu.
“Eu chorei quando ela morreu. Nós todos queríamos muito e nos esforçamos para que o procedimento fosse bem-sucedido. Mas foi um lembrete de que estamos lidando com seres vivos. Já melhoramos [a técnica] por causa da morte da Gigi. A ciência vai se beneficiar”, disse o designer 3D.
Tecnologia
O grupo utiliza de software gratuito e procura reduzir custos ao máximo. Segundo Cícero Moraes, em vez de usar tomografias, que são caras, por exemplo, uma máquina de raio-X já é o suficiente para planejar as próteses. Eles desenvolveram uma tecnologia de escaneamento através de fotos para produzir e imprimir as próteses.
“Fiz os moldes dos pássaros de Sinop tirando fotos do meu celular. Qualquer pessoa poderia fazer isso. É uma tecnologia acessível”, disse Cícero. Um livro online sobre as técnicas é disponibilizado gratuitamente. Os profissionais que foram a Sinop também ministraram palestras e dividiram conhecimento.
Segundo o designer, uma resina especial foi usada na prótese para isolar, não quebrar e colorir com o tom natural do bico. Isto é considerado um luxo no procedimento, pois o grupo visa o bem-estar animal, e não a estética.
Todo o processo contou com a ajuda de pessoas voluntárias. Segundo o designer, a maior dificuldade foi a mobilidade dos profissionais para fazer o procedimento. Da equipe, os veterinários Sérgio Camargo, de São Paulo (SP), Rodrigo Rabello, de Brasília e o cirurgião dentista Paulo Miamoto, de Santos (SP), foram a Mato Grosso para realizar o implante.
Além disso, dois dentistas locais, Bruno Tedeschi e Paulo Bueno, contribuíram para tirar o molde do bico quebrado. Cristhian Saggin, ex-aluno de computação gráfica, comprou peças separadas e montou sozinho uma impressora 3D. Ele doou a prótese. A cirurgia foi realizada no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) de Sinop, com a participação da anestesista Elaine Dione.
Fonte: G1 MT
Foto: Cícero Moraes/ Arquivo pessoal