Cientistas dinamarqueses analisaram um milhão de pessoas e descobriram um padrão. A morte de um companheiro faz disparar o risco de morte por doença cardíaca.
O fenômeno não é incomum e chega muitas vezes às noticias: um casal, junto há décadas, morre com poucos dias de intervalo. Como se aquele que sobrevive ao companheiro sucumbisse ao desgosto ou decidisse, voluntariamente, deixar de viver, por perder o amor de tantos anos.
Parece uma situação inexplicável e quase esotérica, mas não é o caso: pesquisadores dinamarqueses constataram que, afinal, também se morre de um coração partido. E o responsável pela morte é, precisamente, o músculo cardíaco.
Um grupo de cientistas descobriu, a partir da análise de dados de um milhão de pessoas - todos dinamarqueses - que existe um risco elevado de desenvolver arritmias cardíacas graves no ano a seguir à morte do companheiro. O risco é maior naqueles que têm menos de 60 anos e perdem a pessoa amada de forma inesperada.
O estudo, indica o jornal britânico The Guardian, já foi publicano na Open Heart - uma revista científica online - e mostra que o risco de morte é maior entre o oitavo e o décimo quarto dia após a perda do companheiro ou companheira. A situação desagrava com o passar do tempo: um ano depois do óbito, o risco de o sobrevivente do casal sofrer arritmias cardíacas passa a ser semelhante ao da população em geral.
Esta pesquisa foi motivada, precisamente, pelo número de casos em que um companheiro morre dias depois da pessoa amada. Até hoje, já tinham sido feitos vários estudos que indicavam que o marido ou mulher que perde o companheiro tinha maior risco de morte, provocada sobretudo por doenças cardíacas ou acidente vascular cerebral. Mas o mecanismo capaz de causar os óbitos permanecia desconhecido.
O estudo realizado na Dinamarca, que recorreu a dados da população recolhidos entre 1995 e 2014, procurou o padrão e concluiu que o viúvo ou viúva tem maior possibilidade de desenvolver fibrilhação atrial ou auricular, um tipo de arritmia que é mais frequente nos idosos, caracterizada pelo batimento muito rápido e caótico do coração.
Do grupo de um milhão de pessoas cujos dados foram analisados, 88 mil tinham sido diagnosticadas com fibrilhação atrial e 886 mil eram saudáveis. "O risco de desenvolver um batimento cardíaco irregular pela primeira vez era 41% superior entre aqueles que tinham perdido o companheiro", refere a investigação, dirigida por Simon Graff, da Universidade de Aarhus, na Dinamarca.
A análise de dados permitiu ainda perceber que os mais jovens, com menos de 60 anos, têm o dobro das possibilidades de sofrer deste tipo de arritmias quando confrontados com a perda; já aqueles cujo parceiro era saudável no mês imediatamente antes da morte, têm um risco superior em 57% de desenvolver este problema cardíaco. Os cientistas frisam, no entanto, que este estudo se apoia na observação e análise das informações de um milhão de pessoas, não sendo ainda possível estabelecer uma ligação científica de causa/efeito.
Vários outros fatores, nomeadamente o tipo de alimentação ou a predisposição para doenças cardíacas das pessoas que perdem os companheiros e que, por isso, correm maiores riscos de morte, não foram tidos em conta nesta pesquisa.
Fonte: Diário de Notícias
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