A riqueza dos gêneros literários contidos na Torá tem atraído alunos de várias áreas do conhecimento para estudar a Bíblia Hebraica na USP. A matéria ,que é oferecida no curso de Língua e Literatura Judaica do Departamento de Letras Orientais, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, tem matrículas de alunos de engenharia, direito, história, comunicação e economia, dentre outros. O curso propõe uma análise multidisciplinar das narrativas bíblicas dos cinco primeiros livros Pentateuco – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio – textos centrais do judaísmo e dos profetas.
O motivo da pluralidade de público se deve, em parte, ao interesse por assuntos cósmicos e às características religiosas de formação do brasileiro. Porém, Suzana Schwartz, professora que ministra as aulas de estudos bíblicos, ressalta que o curso não tem caráter religioso algum e logo nos primeiros encontros esse viés é desconstruído. No curso, a Bíblia é objeto de estudo e a abordagem acadêmica acomoda elementos da crítica literária, antropologia e arqueologia.
Para a professora, estudar os originais da Bíblia Hebraica amplia os horizontes do conhecimento e proporciona uma melhor compreensão da formação das culturas ocidental e oriental, que se estruturaram a partir desses textos seminais. A elucidação do passado do Oriente Médio antigo fornece, ainda, subsídios para uma reflexão sobre os conflitos étnicos e religiosos que vive a região na atualidade.
Segundo Suzana, a leitura aprofundada dos textos originais em hebraico revela o talento literário dos escritores bíblicos, que já naquela época demonstravam estar na vanguarda no uso da estética da linguagem. Eles foram responsáveis, por exemplo, pela criação da prosa, o gênero literário que expressa clareza, objetividade e simplicidade, para transmitir suas mensagens ao povo judeu. A prosa permitia que a comunicação chegasse ao interlocutor direto e sem ruído.
Tanto a bíblia hebraica quanto os textos do Oriente Médio antigo são ricos na coleção de gêneros e formas literárias. Nos escritos bíblicos, é possível notar a presença de recursos polissêmicos e semânticos do hebraico bíblico – a multiplicidade dos sentidos da palavra, a interpretação do significado de uma frase ou de uma expressão em um determinado contexto. Além do uso da prosa havia o jogo do silêncio e das pausas como recursos comunicacionais.
Bíblia Hebraica ou Torá
A Torá ou Bíblia Hebraica corresponde aos cinco primeiros livros do Pentateuco – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio -, e constitui também a primeira grande parte da Bíblia Cristã, ou Antigo Testamento. Embora, não haja identificação clara do autor, a teologia atribui a escrita da Torá à Moisés, o profeta escolhido para libertar o povo de Israel da escravidão do Egito, segundo a tradição.
No curso de Bíblia Hebraica, são estudados textos selecionados da Torá, escritos entre o século XVIII AEC (antes da era cristã) e o século I EC (era cristã). Os livros narram a história de população judia israelita desde sua origem como grupo familiar, passando por tribos e monarquia até chegar a escravização deles pelo Egito e posterior libertação. Os relatos tratam das crenças judaicas, sua visão de mundo e historia religiosa e devido a importância desses escritos, a Bíblia é o conjunto de livros mais lido, traduzido, copiado, interpretado e reinterpretado do mundo.
Por não conseguir abarcar todo o conteúdo que deseja na disciplina de Bíblia Hebraica do curso de graduação em Letras, Suzana criou um grupo de estudos para discutir o tema. Os integrantes do Grupo de Estudos do Judaísmo Antigo dos Períodos Persa, Grego e Romano se reúnem uma vez por semana na sala 19 do Prédio da História, na FFLCH (Cidade Universitária). A reunião é aberta ao público interessado.
Fonte: Ivanir Ferreira/USP
Foto: Cecília Bastos
Mais informações: (11) 2648-0870, no Departamento de Letras Orientais da FFLCH, email flo@usp.br