A partir do próximo ano, o ensino de engenharia na USP vai dar um salto para o futuro: os alunos terão acesso a um laboratório que simula a produção de uma indústria inteligente, com recursos tecnológicos avançados e produtos personalizados.
Chamado de Fábrica do Futuro, o projeto é coordenado pelo curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica (Poli) da USP que quer envolver os estudantes com a indústria 4.0. O termo faz referência à chamada Quarta Revolução Industrial – uma era impulsionada por inovações como internet das coisas, robótica, inteligência artificial e impressão 3D. Conhecido também como manufatura avançada, esse novo conceito de indústria envolve uma cadeia produtiva totalmente conectada, na qual os processos são adaptáveis às necessidades de produção e os recursos são usados com maior eficiência.
O primeiro passo para tornar a Fábrica do Futuro uma realidade foi a aprovação do projeto no programa Santander e-Grad, uma parceria da Pró-Reitoria de Graduação da USP com o Santander Universidades que investe em propostas para melhorar o ensino de graduação. Foram destinados quase R$ 50 mil ao projeto. A Poli, agora, estuda onde será sediado o laboratório. Enquanto isso, os responsáveis pela iniciativa buscam parcerias para ampliar a fábrica, principalmente de empresas que fabricam máquinas e equipamentos, consultorias e empresas na área de tecnologia da informação.
O projeto, aprovado há poucas semanas, é inspirado nas fábricas de ensino, uma tendência internacional nos cursos de engenharia, principalmente na Alemanha, onde surgiu a noção de indústria 4.0. São espaços para os estudantes acompanharem, na prática, como as tecnologias podem ser aplicadas no ambiente fabril, em geral, com foco em um produto específico.
“Vamos simular a fabricação de um skate. Ele foi escolhido porque é um produto relativamente simples, que permite uma configuração individualizada. Cada pedido é único”, explica o professor Eduardo Zancul, um dos coordenadores da iniciativa.
O shape do skate, por exemplo, que é a tábua onde os pés são apoiados para realizar as manobras, podem ser de vários formatos. As rodinhas, por sua vez, podem ter cores diferentes para cada produto. O professor explica que, além disso, o skate oferece possibilidades como um produto inteligente. Por ser utilizado como meio de transporte, ele pode ter tecnologias de localização que o integrem, por exemplo, com sistemas que fazem rastreamento das linhas de ônibus.
Engenheiros do Futuro
Essas possibilidades serão avaliadas e desenvolvidas pelos alunos em disciplinas que envolvem inovação. “Já existe no curso a questão de planejar a produção, mas agora isso será feito com metodologias e tecnologias super atualizadas, afinadas com o que há de mais moderno no mundo”, avalia Zancul. Um exemplo é o uso de equipamentos que rastreiam os produtos únicos no ‘chão de fábrica’ com tecnologia RFID (sigla para Identificação por Rádio Frequência, em inglês), além da marcação de componentes com o código QR.
Para o professor, a Fábrica do Futuro torna a indústria mais atraente para os estudantes, que passam a enxergar oportunidades de criação de negócios, a partir de soluções inovadoras. “Há muito investimento na área, muito interesse das indústrias, empresas e governo na manufatura avançada. É um movimento forte no mundo e que está chegando no Brasil agora”, afirma. Em uma perspectiva mais ampla, o objetivo do novo laboratório será formar mão de obra capacitada para uma indústria nacional mais competitiva.
Zancul ressalta que o projeto é uma ‘quarta perna’ de um núcleo de laboratórios da Poli que vem trabalhando com inovação, empreendedorismo e tecnologias móveis, somando agora a questão da produção para completar o conjunto, do qual fazem parte o Ocean USP, o Núcleo de Empreendedorismo (NEU) da USP e o InovaLab@Poli.
Além de Zancul, lideram o projeto os professores Davi Nakano e Marco Aurélio de Mesquita.
Fonte: Aline Naoe/Jornal da USP
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