Uma pesquisa realizada com 179 moradores do bairro de Vila Medeiros, na região noroeste da cidade de São Paulo, mostrou que 105 dos entrevistados manifestaram oscilação entre mal-estar e bem-estar, conforme o logradouro pelo qual passam, enquanto 38 pessoas declaram sentir frustração e tristeza com a paisagem encontrada nas ruas da região onde moram. Dentre os pesquisados, 57 eram adultos, 62 jovens que cursavam o ensino médio, e outros 60 jovens cursando o ensino fundamental.
Os números da pesquisa acabam de ser publicado em um artigo assinado pelos professores Adilson Citelli e Sandra Pereira Falcão, ambos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, veiculado na revista Comunicação & Educação. Intitulado Comunicação e Educação: um contributo para pensar a questão ambiental, o texto propõe estratégias educativas com apoio de intervenções próprias da comunicação como “um campo de intervenção social para se compreender a importância da ação comunicativa para o convívio urbano, elaborando e implementando projetos colaborativos de mudanças sociais”.
De acordo com os autores, quando se pensa em criar e manter valores socioambientais, esbarra-se em fatores externos à questão. Segundo o texto, “como um ‘jogo de esconde’ protagonizado pelo poder econômico característico do capitalismo de alto consumo, no qual criam filtros com características mais publicitárias do que propriamente dirigidas à resolução de adversidades que matizam a realidade e a vida social”.
Desgaste
Apesar da declaração de desgaste e desconforto dos moradores, a maioria revela, entretanto, nunca ter acionado o poder público por meio dos canais de comunicação da prefeitura em busca de melhorias socioambientais para o seu distrito, como citam os autores.
Essa situação pode mudar com a ajuda da conexão comunicação-educação, já que é um canal para se compreender melhor o tema do meio ambiente. De acordo com o artigo, “é possibilitar questionamento e posicionamento mais direto do cidadão perante os órgãos públicos em relação às agressões ao meio ambiente”.
As cidades precisam criar condições necessárias para garantir aos cidadãos uma nova cidadania ambiental. E esta envolve diretamente a participação do cidadã. Para os professores, este é o principal obstáculo a ser vencido. No distrito estudado, observou-se uma abordagem conservadora e reducionista na educação ambiental para os jovens. É necessário que a informação ambiental urbana seja capaz de “construir ou restaurar os elos que possibilitem aos moradores refletir e agir sobre ‘desvios’ redutores da qualidade de vida”.
Com essa pesquisa, os docentes querem estimular um debate de maior alcance “voltado à internalização de valores capazes de realimentar a proatividade cidadã no plano socioambiental”, destacando a importância de “desenvolver na universidade e nas co munidades urbanas projetos que permitam resgatar, reorganizar, reconectar e redistribuir saberes a respeito de comunicação ambiental [...]“. A ideia é fornecer subsídios para redimensionar a participação e o empoderamento do cidadão por meio dos multidispositivos comunicacionais.
Por Margareth Artur, do Sistema Integrado de Bibliotecas (SIBi)
Foto: Marcos Santos / USP Imagens