17/01/2016

Doença de Alzheimer reduz sensibilidade gustativa


Vários estudos mostram que, com o passar dos anos, as pessoas têm a sensibilidade gustativa em relação ao sal diminuída. Mas o que preocupa a comunidade de saúde é o fato dessa redução da capacidade de sentir os sabores se acentuar em presença de doenças como o Alzheimer.

Para entender a relação da sensibilidade gustativa com a doença de Alzheimer, a nutricionista e pesquisadora Patrícia Contri, do setor de geriatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, estudou cerca de 130 pessoas. Ela comparou diversos parâmetros, como idade, saúde, hábito alimentar, índice de massa corporal (IMC) e sensibilidade gustativa, de 30 adultos entre 30 e 50 anos; 30 idosos sem Alzheimer; 23 em estágio moderado da doença e 37 em estágio leve.

Os resultados mostraram que a doença de Alzheimer está diretamente associada com o prejuízo da sensibilidade gustativa. A percepção do gosto salgado ficou prejudicada desde o estágio inicial da doença. E, com avanço, verificou-se que essas pessoas também sentem menos os gostos doce e amargo.

O paladar pelos sabores básicos – doce, salgado, ácido, amargo – foi observado pela pontuação dada pelos participantes do estudo. Cada um deles recebeu tiras com quatro concentrações diferentes de cada sabor e duas, sem gosto. “A diminuição da sensibilidade gustativa ocorreu em 26% dos idosos com a doença moderada; 8,1%, com a doença leve e 3,3%, sem a doença”, afirma Patrícia.

A nutricionista adianta que, com a idade, a função de identificar os gostos pode ficar prejudicada. Mas esse problema nas pessoas com Alzheimer se agrava com o avanço da doença. E o fato preocupa, pois a dificuldade na identificação dos gostos pode acentuar danos nutricionais nos idosos e agravar indiretamente a saúde.

Desnutrição em idosos
Os resultados desse estudo “podem contribuir para atuação prática do profissional na área da saúde que trabalha com o idoso que tem a doença de Alzheimer”, afirma Patrícia, já que oferece informações importantes para tornar as refeições mais agradáveis e atrativas. Patricia adianta que se deve ter cautela com orientações nutricionais restritivas para evitar possíveis complicações associadas à subnutrição.

Ela alerta também para que a dificuldade em reconhecer o gosto salgado não seja usada de forma isolada como um indicador no diagnóstico clínico da doença na população em geral. “Pode ser utilizado como método complementar para auxiliar a diferenciação de indivíduos com alteração cognitiva, em um contexto clínico. Porém, o mais importante é permitir identificar o momento certo para uma intervenção nutricional precoce, prevenindo a desnutrição nestes idosos”, adverte.

Segundo Patrícia, na literatura, existem poucos trabalhos que avaliaram a sensibilidade gustativa em idosos com a doença de Alzheimer. Os estudos já realizados apresentam limitações como pequeno número de pessoas analisadas e inclusão de indivíduos com mais de uma doença o que afeta o paladar. “Não existem pesquisas com este tema em idosos com a doença de Alzheimer, relacionando a progressão da doença”.

O trabalho Associação da gravidade da demência devido à doença de Alzheimer com o paladar de idosos foi apresentado pela nutricionista Patrícia Contri, em novembro, à FMRP para a obtenção do título de doutorado. A tese foi orientada pelo professor da área Geriatria do Departamento de Clínica Médica da FMRP, Julio Cesar Moriguti.

Doença de Alzheimer
O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que cresce mundialmente conforme a população acima dos 65 anos de idade aumenta. Estima-se que o crescimento da incidência da doença dobre a cada 20 anos.

Dados da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) mostram que cerca de 1,2 milhão de brasileiros e de 35,6 milhões ao redor do mundo possuem a doença.

A patologia foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra e neuropatologista alemão, Alois Alzheimer. É caracterizada pela perda das funções cognitivas como: memória, atenção, linguagem e orientação. Não se sabe ao certo as causas da doença, que ainda é incurável. O único tratamento existente melhora os sintomas da doença, não sendo possível evitar sua progressão ou regressão.

Por Gabriela Vilas Boas e Rita Stella, do Serviço de Comunicação Social do Campus de Ribeirão Preto
Publicado em Agência USP