A companhia da dança Grupo Corpo, uma das iniciativas afetadas por cortes da petroleira
A crise da Petrobras afetou sua política de patrocínio cultural, considerada a mais abrangente do país.
Há três anos consecutivos não há lançamento, em caráter nacional, de seu edital de seleção pública de projetos culturais, iniciado em 2000. A Folha apurou que o cenário deve se repetir neste ano.
A Petrobras também reduzirá o fomento direto, sem renúncia fiscal, direcionado a projetos considerados estratégicos, como os grupos Corpo (dança), Galpão (teatro) e a Orquestra Petrobras Sinfônica.
Para definir uma nova política de patrocínio, a companhia contratou a diretora Carla Camurati, ex-gestora do Theatro Municipal do Rio. Ela avalia o andamento e o impacto dos projetos patrocinados até agora e deve entregar um relatório em fevereiro.
A reportagem apurou que uma nova política só deve entrar em vigor em 2017, ainda que Camurati tenha dito que não foram definidos prazos.
A política de patrocínio encampava projetos de circulação de espetáculos de teatro e dança, manutenção de acervos históricos e museus, produção e distribuição audiovisual, de música e literatura.
A AAA/SP (Associação de Amigos do Arquivo do Estado de São Paulo), que capta recursos para manutenção de acervo do arquivo público paulista, por exemplo, é uma das que sente o efeito da redução. Dependente de editais públicos, a instituição começa o ano sem qualquer projeto em vista e com o menor corpo de funcionários em 29 anos de história –15 de um grupo que já foi de cem.
Em 2012, foi selecionada no edital da Petrobras com projeto para o catálogo e tratamento do arquivo de fotos, negativos e edições impressas do jornal "Última Hora". O projeto, que recebeu R$ 584 mil, termina em abril, após exposições do material em São Paulo, Rio e Porto Alegre.
"A Petrobras tem um papel social na cultura porque há muitas iniciativas, como a de manutenção de acervos, que não dão visibilidade de marca e atraem menos interesse de patrocinadores", disse Cesar Frezzato, diretor da AAA/SP.
Até 2012, a Petrobras liderou o ranking dos maiores patrocinadores estatais da cultura brasileira por meio da Lei Rouanet. No ano seguinte, quando a verba de patrocínio da petroleira caiu 56% –a R$ 39 milhões–, o BNDES assumiu o primeiro lugar.
Em 2015, a Petrobras foi para o quarto lugar da lista, com R$ 10,9 milhões –queda de 31% em relação aos R$ 15,8 milhões do ano anterior.
A seleção pública também já viveu tempos mais auspiciosos. Em 2006, chegou a contemplar 285 projetos.
O último grande edital foi justamente o de 2012, com investimentos de R$ 67 milhões em 33 projetos. Em 2014, a seleção foi restrita a Minas, e só 36 projetos foram contemplados, com R$ 10 milhões.
Além de cortar patrocínio via edital, a Petrobras reduz o fomento que não passa pelas leis de incentivo. O Grupo Corpo, por exemplo, teve corte de 21,9% em 2015 –saiu de R$ 4,1 milhões no ano anterior para R$ 3,2 milhões.
Segundo o diretor artístico Paulo Pederneiras, o grupo precisa de R$ 15 milhões anuais para cumprir a agenda de espetáculos no país e no exterior. "A gente sabe o estrago que é para a cultura de uma maneira geral a redução de patrocínio da Petrobras", disse.
Procurada, a Petrobras afirmou que seleção pública não tem periodicidade, e os valores dos patrocínios para 2016 ainda estão em negociação.
Publicado em Jornal Floripa