18/01/2016

Rã brasileira canta e dança para acasalar e advertir rivais

A surpreendente Hylodes japi. Foto: Fábio Perin de Sá/Arquivo.

A rãzinha-da-correnteza (Hylodes japi) foi descrita no ano passado por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp). E agora que os estudos conseguiram acompanhar a intimidade do pequeno animal, endêmico das montanhas acima de 800 metros, na Serra do Japi, Jundiaí (SP), descobriu-se que essa rã utiliza um sofisticado sistema de comunicação, que envolve desde vocalizações a carícias entre machos e fêmeas.

Em artigo publicado na edição desta quarta-feira, 13 de janeiro, do jornal científico de acesso aberto PLos ONE, o biólogo Fábio Perin de Sá e seus colegas da Unesp descrevem o comportamento da rã. Além de emitir diferentes tipos de sons, ela utiliza um repertório de sinais visuais que antes não haviam sido descritos entre os anfíbios, como posições do pé, impulsos com os braços, balançar e serpentear a cabeça e até mesmo um jeito diferente de se mover.

A equipe observou o ritual de sedução executado pelos machos. Sons indicam que a fêmea está no território ocupado pelo macho. Após ser notado, começa a aproximação. Sinais com os dedos e movimentos de corpo e cabeça indicam que ele está a fim. Ela pode ajudar na aproximação com pequenos saltos, mas não significa ainda que alguma coisa vá rolar.

Tudo pode terminar em um mergulho da fêmea, que depois de ser seguida pelo macho, desaparece na profundeza da água. Ele parte para outra e volta a vocalizar. Mas se ele for bem-sucedido, logo ela vai demonstrar. O “sim” da fêmea vem com toques dos braços sobre os pés dele, em seguida no dorso próximo à cabeça.

Aí, esta história já se sabe onde vai dar. Ela se repete principalmente no período final de chuvas, entre fevereiro e abril, quando nascem milhares de girinos nas águas correntes da região. Importante destacar que alguns comportamentos das fêmeas, estimulando os machos, são um registro inédito entre as rãs.

Mas a espécie não usa suas habilidades de comunicação apenas para seduzir. Os sinais podem servir também para defender o território. Os pesquisadores identificaram 18 comportamentos, usados para quatro diferentes funções. Além da corte, os machos dão sinais de alerta e de defesa à longa e curta distância para rivais.

Os autores do artigo sugerem que o comportamento observado na rãzinha-da-correnteza seja comum a outras espécies do mesmo gênero. “Nossos estudos indicam que a comunicação nas espécies de Hylodes é mais sofisticada do que o esperado”, afirma Fábio de Sá. “Também sugerem que a comunicação em anfíbios é mais complexa do que se pensava. Provavelmente, isso é particularmente verdade para áreas tropicais, onde há um maior número de espécies e grupos filogenéticos e/ou onde há maior diversidade de micro-habitats”.

Por Oeco.org