País pretende flexibilizar
leis e incentivar a pesquisa para que os carros autônomos se popularizem
Desenvolvimento de novas tecnologias de automação significa que os
carros parcial ou completamente autônomos estão próximos do ponto em que sua
implantação generalizada é viável". A afirmação poderia ter sido feita
durante a apresentação de um carro autônomo da Tesla ou da Volvo, ou então por um
executivo do Google ou da Ford,
que recentemente anunciaram testes de carros que dispensam os comandos do
motorista. Mas, a frase ganha ainda mais peso por fazer parte de um documento
divulgado pelo Departamento de Transportes (DOT) do governo dos Estados Unidos.
O relatório é uma atualização de
um documento publicado em 2013, que definia o posicionamento do país quanto ao desenvolvimento de
tecnologias de carros autônomos. O novo texto foi divulgado não por acaso
durante o Salão de Detroit e alguns dias depois da CES, a maior feira de
tecnologia do mundo. No período entre o início da CES e o final do salão, a Ford anunciou um reforço em seus testes de
carros autônomos, o Google divulgou um balanço sobre os acidentes em que seus veículos estiveram
envolvidos, a Volvo lançou
um novo sedã com diversas funções autônomas e
a Tesla mostrou uma nova
função que permite a seus carros abrirem a porta da garagem para estarem prontos para quando o
proprietário quiser se locomover pela cidade.
Tudo isso
foi um claro recado da indústria automotiva, que foi acompanhado pelo governo
norte-americano: os carros autônomos caminham para se tornar cada vez mais parte do nosso
cotidiano. A não ser por um problema: as barreiras
tecnológicas têm sido rompidas, enquanto a legislação pouco avança. Hoje em
dia, um carro só pode assumir o comando do percurso por pequenos trechos e
sempre permitindo ao passageiro assumir o controle para evitar acidentes.
O documento
divulgado pelo DOT não muda essa situação instantaneamente, mas mostra que o
governo de um dos principais mercados do mundo passou a ver os carros autônomos
como inevitáveis. Então, melhor cooperar do que tentar evitá-los. Segundo o
texto, os órgãos ligados ao
trânsito dos Estados Unidos vão "facilitar e encorajar sempre que
possível o desenvolvimento de tecnologias com o potencial de salvar vidas". Assim,
durante os próximos seis meses um desses órgãos, o NHTSA, "vai propor um
guia com as melhores práticas para a indústria afim de estabelecer princípios
para a operação segura de carros completamente autônomos".
Novas regras federais devem padronizar a legislação
de trânsito por todo o país. Montadoras também
criticam o fato de que atualmente cada estado pode determinar suas regras para
carros autônomos, o que impede que esse tipo de tecnologia passe a ser
implementada em massa. Um
exemplo é a Califórnia, que estabeleceu regras mais rígidas para testes desse
tipo de carro.
Para que as leis que liberam os carros autônomos no mercado sejam
efetivamente flexibilizadas, as autoridades vão exigir provas de que esses
veículos são tão ou mais seguros do que os comandados por motoristas. "É essencial para o desenvolvimento seguro
destes veículos um rigoroso regime de testes que ofereça dados suficientes para
determinar sua segurança", diz o texto.
US$ 4 bilhões de incentivos
O plano de desenvolver essas novas tecnologias não vai ser feito só de
boas intenções. Segundo o jornal The New York Times, Anthony Foxx,
secretário de transportes dos Estados Unidos, adiantou que o
governo federal vai investir US$ 4 bilhões (cerca de R$ 16 bilhões) durante o
próximo ano fiscal.
O objetivo é financiar
"projetos de pesquisa e investimentos em infraestrutura ligados a carros
sem motorista". A destinação dessa verba deve ser oficializada pelo
presidente Barack Obama em fevereiro. Foxx estimou que as tecnologias de
condução autônoma teriam salvado 25 mil mortes nos Estados Unidos durante o
último ano, caso já tivessem sido popularizadas.
O novo posicionamento
das autoridades norte-americanas também pode ser considerado resposta a uma
crítica feita pela Volvo em outubro. Durante um evento que reuniu políticos e
representantes da indústria, o CEO da empresa, Håkan Samuelsson, afirmou que
"os Estados Unidos colocam em risco sua posição de liderança devido à
falta de regras federais para os testes e certificações de carros
autônomos". Na mesma ocasião, a Volvo
afirmou que "assume toda a responsabilidade pelas ações de seus carros
autônomos quando no modo Autopilot", na esperança de pressionar o governo a criar
regras nacionais que popularizem essas tecnologias.
Google
E se a principal preocupação do DOT é com a segurança de entregar todo
o comando aos carros, o Google vem tentando convencer de que é capaz de tornar
o trânsito cada vez mais seguro. Nesta
semana, a empresa divulgou um relatório que
registra 341 incidentes envolvendo seus carros autônomos em testes entre
setembro de 2014 e novembro de 2015. No documento, a empresa garante que seus
carros têm se tornado mais inteligentes conforme são testados. Isso porque foi registrado um
acidente para cada 1.263 km rodados no final de 2014 e no final do ano passado
a empresa contabilizou um acidente a cada 8.558
km.
Por Guilherme Blanco Muniz – Revista Autoesporte
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