Fonte: Projeto Baquaqua - Reverendo William, que ajudou o ex-escravo a aprender inglês, e Mahommah G. Baquaqua
Além de fazerem a versão brasileira da biografia de Mahommah G. Baquaqua, pesquisadores criaram uma plataforma para ajudar professores a trabalharem o conteúdo
Apesar de o sistema escravocrata brasileiro ter durado mais de 350 anos, não há muitos relatos sobre a época feitos por suas principais vítimas. Na verdade, há apenas um – e ele foi escrito em inglês. O africano nascido livre Mahommah Gardo Baquaqua escreveu sua autobiografia, An Interesting Narrative. Biography of Mahommah G. Baquaqua, quando morava no Canadá. Séculos depois, o livro ganha sua primeira versão brasileira.
A obra ganhou uma edição revitalizada em 2001, organizada pelo professor Paul Lovejoy, da Universidade de York, e pelo escritor Robin Law. A tradução para o português, que ainda não tem data de lançamento, é coordenada por Bruno Véras que, com o apoio de Lovejoy e pesquisadores brasileiros, está levando o projeto adiante.
O objetivo deste trabalho é incentivar o ensino da história negra e da diáspora africana que, apesar de ser obrigatório em todas as escolas, não recebe o destaque adequado. Dessa forma, além da publicação do livro, foi desenvolvido também um site sobre a vida do ex-escravo, para auxiliar os professores a trabalharem o conteúdo com seus alunos. O portal do Projeto Baquaqua traz um breve relato sobre a vida do autor, além de algumas fotos e vídeos explicativos.
E ainda será lançado, em breve, o Livro Ilustrativo de Atividades Baquaqua, voltado para crianças do Ensino Fundamental, que explica a trajetória do africano de forma didática, e poderá ser baixado online. Por fim, estão sendo desenvolvidos workshops em Pernambuco para orientar os educadores em como incorporar esse tema ao currículo pedagógico.
Para Bruno, coordenador do projeto, a biografia de Baquaqua pode ajudar os alunos a entenderem melhor o que foi a escravidão no Brasil, pois dá um nome e um rosto a um escravo, narrando os fatos de seu ponto de vista. Além disso, sua história de superação – que foi capturado em seu país na África e libertou-se ao fugir para os Estados Unidos durante uma viagem de navio com seu senhor – subverte a imagem clássica de submissão e sem identidade que se criou sobre os escravos.
Por Angela Destri
Publicado em Instituto Claro