Cientistas anunciaram um avanço no desenvolvimento de embriões humanos em laboratório que pode melhorar tratamentos de infertilidade e revolucionar nosso conhecimento sobre os primeiros estágios da vida.
Pela primeira vez, embriões atingiram uma etapa além do ponto em que normalmente são implantados no útero.
A pesquisa realizada no Reino Unido e nos Estados Unidos foi interrompida logo antes dos embriões atingirem o limite legal de 14 dias de vida para o desenvolvimento de embriões em experimentos científicos.
Mas alguns cientistas já pedem que este limite seja alterado, uma demanda que levanta diversas questões éticas.
Mistério
Os primeiros estágios da vida humana ainda permanecem um mistério, mas, no estudo publicado pelas revistas Nature e Nature Cell Biology , os pesquisadores conseguiram estudar embriões por um tempo maior do que já havia sido feito antes.
O prazo de uma semana costumava ser o limite, com cientistas sendo capazes de cultivar um óvulo fertilizado até o momento em que normalmente são implantados no útero.
Mas os autores do estudo encontraram uma nova forma de imitar quimicamente o ambiente de um útero para que um embrião continuasse a se desenvolver até atingir a segunda semana.
Isso requer uma combinação de um meio rico em nutrientes e uma estrutura na qual o embrião pode se "implantar".
Os experimentos foram encerrados propositalmente no 13º dia, pouco antes de ser atingido o limite legal, mas bem além do que havia sido conseguido anteriormente.
Momento crucial
A pesquisa já está permitindo vislumbrar como um embrião dá início ao processo de autorreorganização para se tornar um ser humano.
Trata-se de um momento crucial, no qual muitos embriões apresentam defeitos em seu desenvolvimento ou não conseguem se implantar no útero.
O estudo permitiu, por exemplo, que pesquisadores observassem em embriões com dez dias a formação do epiblasto, uma aglomeração bem pequena e crucial de células que formam um ser humano, enquanto as células ao seu redor se encarregam da criação da placenta e do saco vitelínico.
Magdalena Zernicka Goetz, da Universidade de Cambridge, disse que "nunca esteve tão feliz" como quando cultivar de forma bem-sucedida estes embriões.
"Isso nos permite entender os primeiros estágios de nosso desenvolvimento e o momento em que o embrião se reorganiza pela primeira vez para formar o que no futuro será um corpo", disse ela à BBC.
"Não conhecíamos estes estágios antes, então, isso terá um impacto enorme nas tecnologias de reprodução."
Dilema ético
Um acordo internacional determina que embriões não devem ser desenvolvidos além de 14 dias em pesquisas científicas. O novo estudo chega perto deste limite, e alguns cientistas já argumentam que ele deve ser revisto.
"Em minha opinião, já havia motivos para permitir a cultura de embriões além de 14 dias antes desta pesquisa aparecer", diz o geneticista Azim Surani, do instituto de pesquisa Gurdon, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
O prazo máximo foi estabelecido há décadas. Acredita-se que, neste ponto, o embrião torna-se um "indivíduo" já que não é mais possível que ele forme um gêmeo.
Daniel Brison, professor de embriologia e células tronco da Universidade de Manchester, no Reino Unido, também argumenta que talvez seja necessário reconsiderá-lo.
"Dado os possíveis benefícios para novas pesquisas sobre infertilidade, a melhoria de métodos de reprodução assistida e para evitar abortos precoces e outros problemas na gravidez, pode haver motivos para rever este limite no futuro", afirma.
Foto: Universidade de Cambridge/BBC
Fonte: BBC