10/05/2016

NASA. Descobertos 1.284 novos planetas. Nove podem conter vida


A NASA anunciou esta terça-feira que 1.284 dos corpos de potencial interesse encontrados pela sonda Kepler foram validados como planetas. Nunca antes tinham sido identificados tantos novos exoplanetas de uma vez por uma agência espacial. De acordo com o estudo já publicado no Jornal de Astrofísica, nove destes planetas estão nas zonas de habitabilidade das estrelas que orbitam, significando isto que podem ter condições para ter vida.
A agência especial descobriu ainda 428 corpos que foram rotulados de “falsos positivos” porque, embora não tenha sido possível estudá-los convenientemente até à época, têm maior probabilidade de não serem planetas do que de serem. Esses corpos são chamados “impostores”. Essa informação só pode ser confirmada estudando-os durante a sua passagem entre a sonda e a estrela que orbitam, o que ainda não foi possível. Sabe-se também que os exoplanetas são comuns e que a esmagadora maioria das estrelas têm planetas a elas associados.
O anúncio oficial ao mundo foi realizado em teleconferência esta terça-feira por Paul Hert (diretor da Divisão de Astrofísica da sede da NASA em Washington), Timothy Morton (investigador associado na Universidade de Princeton em Nova Jérsia), Natalie Batalha (cientista da missão Kepler no Centro de Investigação de Ames da NASA em Moffett Field) e Charlie Sobeck (gestor das missão Kepler e K2 em Ames). Uma equipa de astrofísicos da agência espacial norte-americana respondeu às dúvidas dos internautas no Twitter, através da etiqueta #askNASA.
Há séculos que o ser humano se interroga sobre a existência de outros mundos semelhantes ao terrestre. A missão Kepler, décimo programa de exploração deste gênero da agência espacial norte-americana, tenta responder a esta (e outras) perguntas. “Kepler” é uma sonda espacial que funciona como observatório para outras regiões da Via Láctea. O objetivo da sonda, lançada para o espaço em março de 2009, é encontrar e estudar outros planetas, com o tamanho próximo ao da Terra, que não orbitem o Sol. O método é simples: a sonda Kepler deteta os milhões e milhões de estrelas da nossa galáxia que possam ter sistemas de planetas em seu redor. E vai em busca deles.
O que precisa de saber sobre a sonda Kepler
Desde que a sonda Kepler deixou a Terra para viajar pela galáxia fora já nos mostrou mundos verdadeiramente extraordinários. Graças ao projeto da NASA sabemos, por exemplo, que há três tipos de exoplanetas mais comuns no Universo próximo: são os gigantes gasosos; os planetas semelhantes à Terra, mas extremamente quentes e com órbitas muito curtas; e os gigantes de gelo. Posto isto, a missão agora é outra: encontrar mais planetas telúricos (planetas semelhantes à Terra em tamanho e solidez) nas zonas habitáveis das estrelas que orbitam, onde pode existir água líquida à superfície.
Com isto, a sonda Kepler vai dar-nos resposta a seis dúvidas: qual é a percentagem de planetas telúricos ou maiores que existem nas zonas habitáveis das estrelas? Como são as suas órbitas: curtas ou longas, próximas ou distantes, regulares ou irregulares? Quantos planetas existem a orbitar sistemas com mais do que uma estrela? Qual é o comportamento dos planetas gigantes: que massas e densidades têm, quanto tempo demoram a girar sobre eles próprios? Como são essas estrelas que os planetas orbitam? Que outras técnicas podemos usar para descobrir e explorar sistemas planetários?

Aos poucos e poucos, a NASA vai recebendo respostas. E por isso é que, em dezembro do ano passado, publicou um vídeo no YouTube onde ilustra como são as órbitas dos sistemas planetários múltiplos nos arredores do Sistema Solar. As órbitas foram colocadas em escala, mas o tamanho dos planetas não, para que vejamos com maior nitidez como, mesmo preenchido por tanto espaço vazio, o nosso universo está cheio de novidades para nos dar. Veja aqui o vídeo com a ilustração dos 1.705 planetas e 685 sistemas planetários que tinham sido encontrados até 24 de novembro de 2015.

Os últimos dias foram marcados pela passagem de Mercúrio entre o Sol e a Terra, um evento que só voltaremos a ver daqui a três anos. Na verdade, este evento tem mais ligação com a missão Kepler do que parece à primeira vista. É que é precisamente a passagem dos planetas entre a Terra e a estrela que eles orbitam que permite à sonda estudar os corpos extrassolares. 
Os cientistas chamam de trânsito astronômico ao fenômeno em que um corpo celeste passa em frente de outro maior, bloqueando parte da sua visão. É por causa dos trânsitos astronômicos que existem eclipses ou vemos pequenos pontos negros no Sol quando Mercúrio ou Vénus passam entre o nosso planeta e a nossa estrela. Esse efeito é a ferramenta de busca da sonda Kepler, que funciona como um soldado de guarda no meio de uma guerra: ela procura por pequenos pontos negros que atenuem o brilho natural das estrelas e vai ao encontro deles, para confirmar se são planetas.

Se forem, o passo seguinte da sonda Kepler é descobrir as características dos corpos celestes, principalmente a duração da translação do planeta e a massa do Sol, algo que se consegue tendo em conta quanto é que o brilho da estrela diminui à passagem do planeta. Outras características, como o tamanho do planeta e a sua temperatura, obtêm-se através do perfil da órbita dos corpos celestes. Com um registo de todas estas informações (algo que tem de durar poucas horas, aproveitando o trânsito astronômico), a NASA fica mais perto de saber se o planeta pode ou não estar na zona habitável da estrela.
Este projeto da NASA foi de tal modo bem sucedido que a agência norte-americana decidiu dar continuidade através da missão K2 ou “Second Light”. Essa missão, nascida a 18 de novembro de 2013, é a que nos trouxe novidades para a Terra, as mesmas que hoje foram anunciadas, depois de quase três anos a olhar para estrelas novas, supernovas e fenômenos cósmicos impressionantes.
Ambas as missões foram batizadas em homenagem a Johannes Kepler, um astrônomo e matemático alemão que descobriu as três leis fundamentais da mecânica planetária. Em palavras simples: Kepler foi o homem, discípulo de um dos maiores astrônomos do século XVII, que explicou ao mundo como é que os planetas se movem. Os seus estudos serviram de base para Isaac Newton.
Fonte: Observador
Imagem: NASA/JPL-Caltech/T. Pyle