As bactérias preferem “socializar” mais com umas do que com outras e trocar entre si informação genética, que lhes dá resistência a antibióticos, através de “códigos” que lhes permitem reconhecer que informação deve ser trocada.
A conclusão consta num estudo desenvolvido por uma equipa de investigadores, incluindo dois portugueses, do Instituto Pasteur, em Paris, França, e recentemente publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Para chegar a esta conclusão, a equipa analisou mais de 800 genomas (sequências completas de ADN) de bactérias, nomeadamente das que são más para os humanos, como as que causam meningite, pneumonia, infeções hospitalares e gástricas.
Pedro Oliveira, pesquisador do Grupo de Genômica Microbiana Evolutiva do Instituto Pasteur e primeiro autor do estudo, sustentou à Lusa que os resultados obtidos vão permitir, no futuro, perceber melhor como as bactérias interagem umas com as outras e com os humanos e como evoluem, a ponto de se tornarem patogênicas.
Trata-se de uma peça do “quebra cabeças” fundamental, na medida em que, assinalou, “a resistência a antibióticos é cada vez mais frequente, devido à troca de informação genética entre bactérias”.
O cientista explicou que as bactérias “adquirem de outras bactérias resistência a antibióticos, tornando-se elas próprias resistentes a antibióticos”.
A transferência de informação genética entre bactérias faz-se à custa dos chamados parasitas moleculares, que coexistem com elas.
Se estes transportadores de informação genética são úteis para as bactérias, porque possibilitam que se tornem resistentes aos medicamentos, que as eliminam, a verdade é que, muitas vezes, também podem ser maléficos para as bactérias, ao ponto de as matarem.
O grupo de investigadores do Instituto Pasteur confirmou que as bactérias, tal como as pessoas, têm um sistema imunitário que as protege de elementos invasores.
O sistema imunitário, no caso, tem o nome de sistemas de “restrição-modificação”, compostos por uma série de proteínas que funcionam como um “código” que permite às bactérias reconhecerem a “informação genética que é sua da que não é”.
Os cientistas verificaram que o número destes elementos de controlo, que regulam o que entra numa célula, tem “uma forte influência” na forma como as bactérias interagem umas contra as outras, “socializam entre si”, trocam informação genética.
Segundo Pedro Oliveira, “as bactérias têm preferências na socialização”, escolhem umas e não outras para aumentar “a variabilidade do seu ADN”.
Ora, concluiu a equipa de investigadores, isso acontece quando as bactérias têm mais elementos de controlo, de reconhecimento do “ADN invasor”.
O estudo contou com a participação dos cientistas Marie Touchon e Eduardo Rocha, que coordena o Grupo de Genômica Microbiana Evolutiva do Instituto Pasteur.
Fonte: Observador