Imensos tsunamis provocados pelo impacto de meteoros cobriram as planícies do norte de Marte há mais de três bilhões de anos, redefinindo radicalmente as bordas dos antigos mares do Planeta Vermelho, de acordo com um estudo publicado na quinta-feira (19).
As conclusões, baseadas em mapeamentos geológicos, podem oferecer novas pistas para a busca por vida.
A descoberta também reforça a teoria de que grandes inundações transformaram as planícies do norte de Marte em um oceano há 3,4 bilhões de anos, segundo o estudo.
Alguns cientistas discordam dessa hipótese, apontando que o suposto litoral desse mar já desaparecido aparece hoje com um formato extremamente irregular, de modo que não parece indicar a presença anterior de um oceano.
"Nossas descobertas conciliam a hipótese do oceano com a ausência intrigante de costas distribuídas ao longo de uma elevação constante", disse à AFP o autor principal do estudo, Alexis Rodriguez, pesquisador do Instituto de Ciência Planetária em Tucson, Arizona.
Estes 'megatsunamis' provavelmente ocorreram dezenas de vezes ao longo de centenas de milhões de anos, mas o estudo, publicado na Nature's Scientific Reports, se centrou em dois deles, que aconteceram com alguns milhões de anos de diferença.
Os primeiro arrastou pedregulhos e detritos por centenas de quilômetros para o interior da superfície. O segundo se elevou durante um período muito mais frio, lançando enormes blocos de gelo na medida em que as ondas congelavam no ar.
Rodriguez e sua equipe traçaram os pontos de origem dos tsunamis, formados por duas crateras de cerca de 30 km de diâmetro cada.
Cápsulas do tempo congeladasAs ondas gigantes teriam em média cerca de 50 metros de altura, mas provavelmente se elevaram cerca de 120 metros - o equivalente a um prédio de 30 andares. Ambos os tsunamis submergiram áreas aproximadamente do tamanho da França e da Alemanha juntas.
Nenhuma outra explicação pode dar conta das formações descobertas, disse Rodriguez.
"Ao formatos dos depósitos que mapeamos indicam fluxos ascendentes" poderosos o suficiente para transportar pedregulhos por centenas de quilômetros, explicou o pesquisador por e-mail.
Marte é certamente o planeta mais estudado do nosso Sistema Solar (além do nosso próprio), e ainda assim ninguém parece ter notado as evidências de ondas gigantescas no passado do Planeta Vermelho.
"Meu palpite é que estávamos tentando encontrar linhas costeiras em Marte similares às que vemos na Terra" disse Rodriquez.
O segundo tsunami poderia fornecer um novo terreno de pesquisa para sinais de vida no início da história de Marte.
Os blocos de gelo lançados são provavelmente feitos de água do antigo oceano, o que faz deles cápsulas do tempo congeladas de bilhões de anos de idade.
Por ter estado originalmente na forma líquida apesar das temperaturas muito baixas, a água deve ter sido densa e, portanto, com uma alta concentração de sal.
"Ambientes aquosos salgados e congelados são conhecidos por serem habitáveis na Terra e, consequentemente, alguns dos depósitos dos tsunamis podem ser os principais alvos astrobiológicos", disse o coautor Alberto Fairen, pesquisador do Centro de Astrobiologia da Espanha.
Há amostras de gelo próximas ao local de pouso da missão espacial de exploração Mars Pathfinder, e os pesquisadores apontam que missões futuras poderiam recolhê-las e analisá-las.
Fonte: AFP
Foto: NASA, ESA, the Hubble Heritage Team (STScI/AURA), J. Bell (ASU), and M. Wolff (Space Science Institute)